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A ilusão da seguranca

Alguns sociólogos definem a sociedade atual como uma “sociedade de risco”, em clara contraposição à “ilusão da seguranca”, um dos artigos mais vendidos no mundo ocidental.

Apesar de todas as formas de “seguros”, estamos continuamente expostos a uma sensação de “desconfiança” e “incerteza”. Não estou apenas me referindo aos ataques terroristas, à violência generalizada e às grandes tragédias ambientais, mas a fenômenos rotineiros, que acabam colocando o indivíduo em uma posição de risco.

Bastaria pensar nos vários tipos de “seguros” privados ou públicos (de saúde, previdenciários, do carro, etc.) que muitas vezes se mostram nada seguros quando precisamos deles. O emprego é inseguro, as relações são inseguras, o futuro é extremamente inseguro.

Em um dos seus artigos, o psicanalista Luís Cláudio Figueiredo faz uma profunda análise da “confiança e desconfiança”, mostrando o quanto a dificuldade de confiar  se faz presente na clínica e na sociedade contemporâneas. Como ele mesmo afirma é difícil saber em que medida o psiquismo individual é sujeito aos influxos da vida social e cultural, ou vice-versa. O que é certo é que existe uma interdependência.

“Poder confiar” é sem dúvida um sinal de saúde psíquica, mas confiar em excesso pode ser fruto de ingenuidade e de idealização que condena o sujeito à decepção.

No entanto esse tipo de confiança é exigida pelos movimentos fundamentalistas, pelos políticos corruptos, pelo próprio otimismo capitalista e por líderes em diferentes áreas que apontam caminhos com uma certeza assustadora em um mundo tão pouco previsível, paradoxal e confuso.

O caminho da saúde mental passa pela capacidade de suportar a ambiguidade do outro e do mundo, permanecendo a meio caminho entre a confiança cega e a desconfiança. A necessidade humana de criar vínculos supõe a capacidade de confiar, mas, por sua vez, essa capacidade nasce da experiência de vínculos primitivos  “suficientemente bons” com o ambiente (pais). Quando esses vínculos foram incorporados sob a forma de vínculos traumáticos, marcados pela ausência ou por uma presença intrusiva, o mundo se torna um objeto estragado, um objeto demoníaco, sedutor e ao mesmo tempo assustador.

Se for confiável a pesquisa de acordo com a qual 87% das crianças brasileiras se queixam de terem pais ausentes por causa de sua dependência do celular ou dos tablets, estamos falando de um número elevado de candidatos ao trauma da desconfiança e da insegurança.

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