A criatividade: um dom ou uma conquista?

Todas as pessoas podem ser criativas? Como nasce a criatividade? Adriana, de Minas Gerais

Você é do tipo que prefere seguir o que todos fazem, ou prefere fazer as coisas do seu jeito? Você prefere os caminhos seguros, bem delimitados, ou adora encontrar caminhos novos, mais arriscados, formas novas de viver a sua vida? Você acostuma submeter-se ao que os outros esperam, ou consegue surpreender, buscando seus próprios pensamentos, suas soluções.

Para alguns é fácil ser criativos, para outros é extremamente difícil. O ser humano é essencialmente criativo, embora nem todos tenham acesso à sua criatividade. O que nos torna criativos? Ou melhor, o que atrapalha o desabrochar de nossa criatividade?

A ato de criar está estritamente vinculado à capacidade de brincar. Trata-se de uma possibilidade que é explorada pela nossa mente desde os primeiros dias de vida. O bebê, de início, não consegue distinguir entre o mundo externo (a mãe) e ele próprio. Podemos dizer que para o bebê, tudo é percebido como sendo ele mesmo.

Quando o bebê manifesta uma necessidade e é atendido pela mãe de forma adequada e na hora certa, é como se ele próprio estivesse “criando” algo. De fato, para o bebê não é a mãe que oferece o cuidado solicitado (mamar, aquecer, segurar no colo, limpar, etc.), mas é ele mesmo que “cria” o seio, o calor, a sensação de ser contido, pois, por enquanto a mãe ainda não é percebida como separada dele.

Este processo que é essencialmente ligado a sensações corporais traz para o bebê uma sensação de conforto e, ao mesmo tempo, de onipotência, pois ele percebe que pode “criar” aquilo de que ele precisa.

Mais tarde, quando os objetos externos podem ser percebidos como tais, eles ainda são percebidos de uma forma carregada de sensações internas. Para a criança de fato os objetos não são simples objetos, mas estão carregados de significados que lhe são atribuídos pela própria criança. Um urso de pelúcia não é um urso de pelúcia, é muito mais do que isso. Prove tirar da criança o seu objeto preferido e verá o escândalo que ela vai fazer. Pois o que está sendo retirado não é um “objeto” na sua materialidade, mas um objeto carregado de sentido, revestido de algo que diz respeito à subjetividade da criança.

Quando a criança brinca, ela usa os objetos retirados do mundo externo (os brinquedos), mas, para ela, mais uma vez não são simples objetos. A boneca é algo vivo, revestido pela fantasia da criança de vida própria. Ela fala, dorme, tem fome, etc. Mais uma vez o brinquedo é uma ponte entre o mundo externo e o mundo interno da criança que nele é projetado.

Quando cresce e se torna adulta, a criança deixa aparentemente de brincar, mas, na realidade, continua brincando com outros “brinquedos”. O trabalho, a decoração de uma casa, a compra de um carro, a programação de uma viagem ou das férias, podem de fato se tornar excelentes brinquedos para serem brincados.

Porém, o aflorar da criatividade só ocorrerá naturalmente se, na infância, a experiência com a mãe foi sentida como algo positivo, que permitiu à criança se sentir segura ao criar seus próprios objetos.

Se, por exemplo, a mãe tarda em atender o bebê, ou impõe suas necessidades, ao invés de estar atenta às necessidades dele, esse delicado processo não acontece de forma adequada. A criança, em vez de criar, aprende a se adaptar ao mundo externo e os objetos que este oferece são sentidos como opressivos, invasivos.

Ao crescer, este bebê não poderá brincar com o mundo externo. O brincar será percebido como algo que atrapalha os adultos, como uma atividade “prêmio” e não como algo natural. Ficará, portanto difícil fazer dos vários momentos de sua vida um brincar saudável.

A vida será percebida como uma sucessão de obrigações, que exigem, sobretudo adaptação àquilo que os outros e a sociedade esperam dele. A possibilidade de brincar e, portanto, de criar será muito restrita, provavelmente a espaços bem delimitados. Nesse caso, o segredo é resgatar a capacidade de brincar. Será um processo mais trabalhoso do que seria na infância, porém todos temos essa capacidade. A criatividade está dentro de nós, basta encontrarmos maneiras de desabrocha-la.

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