A entrada do ser humano no mundo é marcada pela necessidade de encontrar alguém que lhe proporcione atenção, dedicação incondicional e cuidados exclusivos. Os sucessivos desenvolvimentos do bebê supõem porém um progressivo afastamento da situação de dependência absoluta, para os primeiros experimentos de autonomia.
Tudo isso representa um processo que é, em certa medida, traumático, porque envolve uma progressiva percepção por parte do bebê de um ambiente que não está à sua disposição o tempo todo e de maneira incondicional. O desmame marca o início desse processo de desencantamento. Contudo, no inconsciente fica o registro da necessidade primitiva de um acolhimento incondicional e de um cuidado dedicado e apaixonado. Trata-se de uma sensação de falta que passa a agir como um pano de fundo permanente.
É a partir dessa sensação de falta que nos orientamos para o outro em busca do amor. A experiência do apaixonamento tem todas as características que nos remetem a esse “objeto” idealizado que é a Mãe Primitiva. Este vínculo com a Mãe Primitiva pode ser buscado tanto em um vínculo afetivo com um parceiro ou, de forma substituta, se ligando de modo incondicional e irrestrito a uma agregação coletiva (instituição religiosa, civil ou corporativa).
O parceiro se torna a promessa ilusória de que a experiência primitiva, interrompida pelo desmame, possa acontecer da forma esperada, ou seja, como uma ligação incondicional, onde é possível esperar tudo do outro: amor dedicado, cuidado, atenção exclusiva, valorização incondicional.
Mas como esse vínculo acontece? A partir da experiência do vínculo primário (a mãe) e de suas características individuais, o psiquismo desenvolve duas maneiras opostas de se relacionar afetivamente. Na realidade, ambas são tentativas de se “proteger” contra a experiência da falta gerada pela perda do estado primitivo de dependência absoluta e de uso onipotente da mãe. Com o desmame, o ambiente materno (o Outro) passa a ser percebido como sendo ambíguo e inconstante, por não permitir mais o uso onipotente que o bebê fazia dele nos primeiros meses de vida e por exigir uma progressiva adaptação e submissão. Desta maneira, o psiquismo “aprende” por experiência própria que o mundo externo não é plenamente “confiável”, pois em algum momento abandona, não cuida, deixa de lado, não ama, descarta.
A vida amorosa futura é uma busca para reencontrar o paraíso perdido, é a busca do amor perdido. A primeira forma que o psiquismo pode desenvolver é estabelecer uma dependência absoluta em relação aos objetos amorosos. A confiança neste caso é constantemente testada com o estabelecimento de uma subserviência absoluta ao objeto amoroso, exigindo dele uma disponibilidade incondicional.
Uma segunda forma pode ser buscada desenvolvendo uma estrutura de controle sobre os objetos amorosos, que permite se vincular com eles usando-os da forma desejada e descartando-os quando não servem mais. Naturalmente as duas formas não se encontram no estado puro, podem ser intercambiáveis e se alternar no mesmo psiquismo, embora, geralmente, uma tende a se afirmar como uma estrutura de relação mais estável do que a outra.