A autorização para existir

Tenho medo de dizer o que penso para evitar ser alvo de críticas ou magoar as pessoas. O que fazer para me libertar disso?” (Tânia Borges, Jundiaí – SP)

A pergunta nos remete a dois tipos diferentes de incômodo que afligem quem a formulou. O primeiro è relacionado à possibilidade de “ser alvo de críticas”. O segundo é de “magoar as pessoas”, provavelmente isto se aplica principalmente àquelas pessoas que são relevantes do ponto de vista afetivo.

Ao analisarmos os sentimentos que emergem, percebemos uma aparente contradição. No primeiro caso prevalece um senso de vulnerabilidade, que remete a uma sensação de fragilidade diante do olhar crítico do outro. No segundo caso, prevalece o sentimento de que o outro possa “se magoar” com as reações do sujeito. É como se o psiquismo, ao se “autorizar a existir” com suas próprias formas representasse uma ameaça para os outros, percebidos como frágeis, incapazes de suportar a sua existência. Tanto num caso, como no outro parece faltar uma estrutura interna suficientemente estruturada, capaz de sobreviver, de existir com naturalidade e espontaneidade na presença do outro.

Este tipo de funcionamento psíquico, quando submetido ao processo de análise, frequentemente remete a situações ambientais primitivas em que o bebê, não pôde completar o seu desenvolvimento afetivo normal que envolve um processo inicial de fusão com o ambiente (mãe) e, sucessivamente, de separação em relação ao mesmo (percebido como outro, não eu).

É este processo de desenvolvimento que define a possibilidade de coexistência sem confusão do mundo interno do indivíduo com o mundo externo, que podem permitir o “relacionamento” sem submissão e sem prevaricação.

Quando isto acontece, o relacionamento com o mundo externo se torna possível, envolvendo a “preocupação” com o outro sem, por outro lado, impedir que o indivíduo tenha acesso á sua agressividade, para se separar do outro quando necessário, a partir de sua forma específica de existência (self) e de sua personalidade.

O indivíduo mede a sua “saúde” psíquica no equilíbrio entre o uso de sua agressividade (o simples fato de existirmos supõe estarmos impondo nossa existência ao outro) e a capacidade de empatia e identificação com o outro.

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