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A agressividade é boa ou ruim?

Como explicar, do ponto de vista psicológico, a agressividade. Ela é boa ou ruim? Mauro, do interior de São Paulo

O simples fato de pormos essa questão demonstra o quanto seja difícil para o ser humano lidar com esse aspecto de sua vida instintiva. De fato, ninguém questiona se a fome é boa ou ruim, todos entendem que ter fome é algo perfeitamente natural. Ninguém sente vergonha em admitir que está com fome. Já no caso da agressividade, fica mais difícil reconhecer que ela está por trás de algumas de nossas reações. Admitirmos que estamos com raiva nem sempre é fácil. Às vezes, é até constrangedor. Aliás, por causa disso, costumamos disfarçar nossa raiva sob forma de agressões veladas, a maioria de caráter inconsciente. Uma delas pode ser esquecer o nome da pessoa de quem temos raiva. Outra é aquela resposta ríspida e inoportuna da qual logo nos arrependemos. “Esquecer” de algo que o outro pediu pode também ser uma forma inconsciente de manifestar nossa raiva, assim como derrubar inadvertidamente um café quente em seu vestido novo ou quebrar, sem querer, algum objeto de sua propriedade.

A agressividade faz parte do nosso sistema instintivo e, portanto, é algo necessário à nossa sobrevivência e possibilita ao ser humano vivenciar uma relação equilibrada e saudável com o mundo externo. No início da vida, o bebê vive sua relação com o mundo externo de forma quase “cruel”, pois exige da mãe (a primeira representante do mundo externo) uma adaptação total às suas necessidades. O mundo do bebê é habitado por objetos que são percebidos como algo que ele mesmo “criou”. De início, para o bebê, não há uma separação entre mundo interno e mundo externo.

Somente por volta dos seis meses, o mundo externo e a própria mãe (que é seu primeiro representante) começam a adquirir uma consistência própria e a serem percebidos como algo “não eu”. Na medida em que o mundo externo começa a ser percebido como repleto de objetos “não eu”, estes são “atacados” pelo bebê, justamente por fugirem ao seu controle onipotente. Basta observar a agressividade que o bebê manifesta com o próprio seio que o alimenta, mordendo e “brigando” com ele. Se o ambiente externo (mãe) suportar os ataques do bebê que manifestam sua agressividade (choro, inquietação, evacuações, etc.) sem revidar e sem ficar “destruído”, o bebê fica aliviado em sua culpa ao perceber que as pessoas em sua volta sobrevivem à sua fantasia destrutiva e que, portanto, elas têm uma consistência própria. A partir desse momento, surge a possibilidade de uma relação verdadeira com o mundo externo, que sempre vai envolver uma certa dose de agressividade, porém controlável.

No entanto, quando a mãe não consegue se adaptar às necessidades do bebê, que são substituídas, de forma intrusiva, pelas necessidades dela, o bebê sente com grande angústia que ela ficou “destruída” pela sua agressividade. É o caso da mãe ansiosa, que despeja no bebê cuidados resultantes de suas necessidades, geralmente ligadas a sentimentos de culpa. A mãe “histérica” ou agressiva, que reage com violência às necessidades do bebe, também demonstra não “suportar” a estrutura narcísica e onipotente do bebê. Em todas essas situações o ambiente demonstra não ser confiável e o bebê se retrai, refugiando-se em uma estrutura adaptativa precoce. Neste caso a agressividade falhou, não podendo garantir ao bebê a possibilidade de ir ao encontro do mundo externo.

Dependendo de como foi vivida essa fase inicial da vida, a agressividade passará a ser sentida como algo que deve ser evitado, ou que pode ser “usado” de forma adequada. No primeiro caso, ela se volta contra a própria pessoa, como sentimento de culpa que leva a atitudes de auto-sabotagem ou de autodestruição. Na pior das hipóteses, poderá dar origem a um mundo interno povoado de objetos ruins, que perseguem a pessoa podendo ocasionar até estados alucinatórios (paranóia).

No segundo caso poderá ser usada de forma adequada para conquistar o próprio lugar no mundo e para se defender dele, quando necessário.

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