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Perguntas a um psicanalista – Prefácio

(C) Ana aula Saraiva

Eis aqui um livro diferente:  um psicanalista que , com linguagem acessível responde a perguntas simples, nascidas de interrogações de pessoas comuns,  que querem apenas uma orientação para viverem o dia-a-dia de suas vidas no mundo de hoje.

Não é um livro teórico, técnico, mas nascido longe da academia “para  ser lido por todos e para trazer luz sobre a mente humana, mesmo aos que não podem ter acesso ao longo e caro processo analítico e ao complexo mundo das teorias psicanalíticas, como diz o autor na sua introdução. Estamos portanto livres da formalidade requerida pelo rigor do trabalho analítico.

Encontramo-nos com as mais diferentes questões, nascidas do desejo de  compreender o “mundo” psíquico-emocional, questões  temperadas de curiosidade e  interesse de pessoas  de diferentes idades, que reconhecem precisarem de dicas para resolver suas duvidas e que se colocam na posição de perguntar ao terapeuta.

.É exatamente esta simplicidade que cativa, o esforço do autor para ser claro e acessível,  tendo sempre em vista os princípios teóricos da psicanálise, seu empenho em  tornar compreensíveis questões nem sempre  fáceis,  sua dedicação em transmitir o conhecimento com transparência. Refiro-me, no entanto, a uma  simplicidade  que nada tem de simplismo ou redução de raciocínio, falo de uma clareza que não abre mão da profundidade necessária  à reflexão, nem se contenta com o obvio.

Ao longo das suas respostas, meu amigo Roberto Girola se revela gente, pessoa humana, cheio de atenção e cuidado pelo humano,  buscando estar próximo de cada  um  que pergunta, seja ele um adolescente , uma mãe ansiosa , um jovem adulto, uma pessoa que quer saber melhor o que significa psicose para compreender seu amigo doente.

 O respeito que Roberto tem pelas pessoas que o procuram  aparece espontaneamente  no que ele escreve, como algo que se desvela sem nenhum artifício ou  esforço, porque esta delicadeza  é parte essencial do  seu modo de ser  e da sua visão de mundo. Há um empenho  genuíno em  colocar-se  no lugar do interlocutor  para compreender melhor as circunstâncias que o cercam, para buscar ouvir, ver, sentir,  perceber o mundo,  a partir do seu ponto de vista e ajudá-lo efetivamente.

Não será esta disposição de espírito do terapeuta  a primeira condição  na direção da cura? Não seria a experiência do encontro com alguém vivo que também vive a busca de significado, que poderá fazer  ressoar no paciente seu próprio poder-ser,  abrindo-lhe um maior espaço de liberdade de viver? 

Um bom autor, um terapeuta  efetivo  nunca poderá ser  um observador dissociado do mundo,  impessoal,  sem identidade  e historia, sem suas  impressões digitais únicas  e cicatrizes singulares. Roberto jamais é frio e distante, mas comprometido, imbricado na vida.

 Considero que a identidade  desse italiano do Piemonte  aparece ao longo do livro e lhe dá um  olhar mais amplo e mais sensível  para considerar questões  culturais de cada região do  Brasil  , para  aproximar-se das necessidades internas de compreensão e pertença próprias de todos nós , para “penetrar  o mundo da psicose  e se dar conta de que esta doença condena as pessoas a uma    solidão infinita”>,para avaliar “o raro prazer de estar com alguém podendo ser nós  mesmos”.

Este livro é sim, de fácil leitura, mas extremamente instigante, faz  pensar, provoca. Suas paginas podem ser lidas ao nosso bel prazer, sem ordem pré-estabelecida,  em qualquer tempo ou  lugar: numa pausa do trabalho,  no metrô, na sala de espera de uma consulta medica, abertas ao acaso ou escolhendo-se os  assuntos . Podem  motivar reflexões ,  ser tema de uma mesa redonda, roteiro de grupos de estudo.

 A partir   de sua leitura , podemos  refletir   sobre  o que já  está escrito  dentro da gente, pela própria vida e pensar em como continuar e escrever melhor o texto de nossa existência; Eu imagino assim e torço para que seja assim!

Gosto  desse Perguntas a um psicanalista porque é simples.   As grandes sacadas  são simples, óbvias,  de repente  tudo faz sentido, eureka

 Parabéns, Roberto, pelo livro e pela coragem de se expor além das paredes do  consultório. Meu caro irmão, você não precisa pedir desculpas pela “demasiada simplicidade” do seu texto. Nós precisamos de textos simples como este  para tornar o mundo psíquico menos difícil e hermético.

Dou  as boas-vindas a  Perguntas a um psicanalista  e desejo que muitos leitores  encontrem  o que  encontrei nessas paginas.

Ana Paula Saraiva

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