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Os falsos messias

Em uma época de incertezas e tensões é historicamente comprovada a tendência ao surgimento dos movimentos messiânicos. Com essa expressão quero me referir a movimentos políticos, sociais e religiosos que se dizem portadores de uma missão salvadora em relação à humanidade.

Na contramão das tendências pós-modernas que puseram em xeque todas as tentativas de manter uma referência às “grandes narrativas” (verdades consagradas por narrativas de caráter religioso, filosófico ou ideológico), levando a uma pulverização da Verdade em “verdades” que logo se revelam “fakes” (algo que remete ao mundo líquido de Bauman), surge a necessidade que alguém nos diga com voz firme e autoritária qual é a “Verdade”. Afinal é muito duro viver sem uma verdade no bolso.

Na realidade é nisso que está o problema desses messias improvisados. Há uma absoluta incapacidade de admitir que o que eles estão vendo e pregando possa ser apenas um ponto para ver a realidade e não a Realidade em si (que aliás sempre foge à nossa apreensão). Na contramão do significante messiânico trazido pelo cristianismo, o messias não é aquele que sacrifica a si mesmo para os outros, mas aquele que sacrifica os outros a si mesmo, nisso incluindo as verdades dos outros que são aniquiladas pelas suas.

Do ponto de vista psíquico, estamos assim assistindo a uma “normalização” dos funcionamentos esquizoides. Por estarem ligados às camadas mais profundas e poderosas do psiquismo, os núcleos psicóides possuem uma grande intensidade e são capazes de captar quantidades grandes de energia psíquica, gerando assim respostas apaixonadas e radicais tanto naqueles que os propagam através de suas atuações, como naqueles que os recebem, aderindo a eles por um movimento intenso de identificação.

Identificar os “falsos” messias não é tão difícil. Geralmente seu discurso é sedutor, não tanto pela sua articulação (que aliás costuma ser bastante pobre), mas pelo seu poder de persuasão, pelo seu tom apaixonado que provoca um certo alívio na mente por dispensá-la da necessidade de processar criticamente as coisas e de pôr em movimento a capacidade de pensar.

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