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Violencia e barbárie

Acredito que estamos percebendo a violencia com cada vez mais naturalidade. Há riscos de voltarmos a nos barbarizar?

Estamos enfrentando apenas um surto de violência, ou há indícios que apontam para uma volta à barbárie? As análises de vários pensadores, infelizmente confirmam esse diagnóstico. Trata-se de uma nova economia psíquica, como alguns sustentam. A violência está presente nesses processos de forma palpável, embora disfarçada.

 Na época de Freud, prevalecia um forte controle social e, de certa forma, o ser humano se movia em busca da honra, uma busca que o levava a reprimir seus desejos, para se submeter àquilo que era esperado dele, até chegar a gestos heroicos.

Embora o ser humano tenha sempre se preocupado com as aparências, havia uma atenção (às vezes hipócrita, é verdade) aos conteúdos, especialmente aqueles que a sociedade reconhecia como válidos e nobres. Por causa das imposições que vinham da cultura (tradição), da ética e da religião o ser humano vivia um tipo de repressão dos seus desejos (recalque) que Freud descreve em sua obra O mal-estar da civilização.

Depois da Segunda Guerra Mundial e com especial ênfase nos anos 60, 70 e 80, inicia um processo de transformação que leva gradualmente a tornar o mecanismo do recalque (repressão do desejo) menos necessário e cada vez menos valorizado. O boom do capitalismo leva àquilo que hoje vivemos sob forma de um novo imperativo. Não se trata mais de reprimir os desejos, mas sim de lhes dar livre expressão. Trata-se de um apelo ao gozo sem fim. O novo status social é garantido a quem mais consome, a quem mais goza.

Uma vez abertas as comportas do desejo, o fluxo das energias psíquicas flui sem contenção. Se eu quero, eu posso, é o lema da nova economia psíquica. Querer impedir isso dispara reações violentas. A contenção do desejo não tem mais lei á qual apelar.

A solução talvez apareça como um exercício truculento do poder, um poder delegado com carta branca a alguém para a sobrevivência de todos. Esta é a barbárie, pois não há mais lei e sim apenas um poder que se arroga o direito de ser a lei. Não estamos longe disso.

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