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O kairós, a força de um momento único

O kairós, a força de um momento único

Uma amiga me encaminhou dias atrás um daqueles vídeos que circulam na Internet . Trata-se de um capítulo do programa X Factor, produzido na Austrália, destinado a descobrir e lançar novos talentos da música. O concorrente é um jovem, que entra cambaleando no palco.

Quando um dos jurados pergunta qual é a sua idade, o jovem responde com toda simplicidade que não sabe ao certo, pois foi encontrado por algumas freiras em uma caixa de sapatos no Iraque, durante a guerra, e levado para um orfanato, sem que fosse possível rastrear a sua família. Emmanuel (em hebraico Deus conosco) e o irmão não tinham nem braços e nem pernas. Certo dia, uma jovem mulher australiana Moira Kelly entrou no orfanato e conheceu os dois meninos. Iniciou-se ali uma história de amor, que ajudou os dois órfãos não apenas a recuperar o uso de seus braços e pernas através de próteses mecânicas, mas também a encontrar, como Emmanuel diz, a sua identidade em uma nova família e a olhar a vida com esperança.


Movendo-se com dificuldade no palco, o jovem começa a cantar com voz firme Imagine. A famosa música de John Lennon é um convite a imaginar um mundo vivendo em paz, sem barreiras de raça e religião. Emmanuel é o sacramento vivo dessa música, graças à Moira que, vencendo todas as barreiras de raça, de religião e os preconceitos contra a deficiência física, se tornou mãe de dois iraquianos aleijados.A história de Emmanuel é uma lição de vida e de esperança, uma daquelas histórias que ainda nos levam a acreditar no ser humano.

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É sobre a potência desse momento que quero falar. Este é um típico kairós (uma das formas dos gregos definir o tempo), um “tempo pleno, um tempo oportuno, um tempo maduro”. O kairós inaugura uma transformação, convocando uma rara sincronia entre o mundo interno e o mundo externo. Quando um kairós se instaura em nossas vidas, se for percebido e aproveitado, grandes transformações podem ocorrer.

O público e os jurados são emocionalmente arrebatados pela intensidade do momento. Emmanuel é o retrato vivo da utopia imaginada por John Lennon. As palavra da música adquirem “realidade”, apesar de serem apenas um sonho que, em outros momentos, assistindo aos bombardeios de Bagdã ou às torturas de Gantânamo, poderia sora como o devaneio de um músico.

A confluência do inconsciente com os dados oferecidos pelo mundo externo permite uma “visão” das coisas única, que não arrebata apenas a mente racional, mas a psique como um todo.

A percepção do mundo fica ampliada e algo que antes não podia ser visto é agora enxergado com clareza. “Faz-nos pensar que tudo com que nos preocupamos é tão patético”, afirma uma jurada, ao perceber o kairós que acabava de acontecer. Algo que sempre esteve ali, ao alcance da mente é percebido somente agora, no momento em que o mundo interno e o mundo externo se cruzam em uma singular sincronia. O que pouco antes não ara enxergado de repente passa a fazer sentido.

Não há nada de mágico nisso tudo, é apenas uma  consequência natural da ampliação de consciência que se produz quando o inconsciente pode funcionar de maneira sincrônica com a nossa consciência.

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