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Ansiedades primitivas

Ansiedades primitivas
Sinto-me mal, chego ao ponto de jogar as coisas, dar murro e bater a cabeça na parede para extravasar o mal estar que eu sinto. Isto acontece mais com meu marido, pois estamos nos desentendo muito. Eu me sinto muito rejeitada principalmente por meu filho , que não gosta de conversar comigo. Gostaria muito de entender melhor o que acontece comigo, por isso peço a sua ajuda, por favor. Tenho um casal de filhos. Graças a Deus não temos dificuldades financeiras. Temos sim muitas dificuldades de relacionamentos. Espero que o senhor possa me ajudar mandando uma resposta, por favor. M. C. F. Muzambinho-MG

Ansiedades primitivas

 O intenso mal-estar a que se refere sua carta se traduz em sensações físicas (mal-estar intenso que a leva a jogar coisas, dar murros e bater a cabeça na parede, além da sensação que o seu cérebro está “balançando”) e mal-estar psíquico, sobretudo envolvendo as relações com os séus entes mais queridos.

O desespero associado à necessidade de jogar coisas, dar murros e bater a cabeça na parede, parece indicar que há uma necessidade de um contato violento com algo “real”.

O mundo real se torna presente em nossa vida de várias maneiras. A sua irrupção pode causar diferentes sensações, prazerosas ou aversivas. No entanto, nem sempre a nossa mente consegue se apropriar dessas sensações, estabelecendo uma clara distinção entre o “dentro” e o “fora”. Para que haja uma relação saudável com o mundo externo é importante que, no contato com ele, possamos diferenciar o que é nosso, ou seja o que pertence ao nosso mundo interno (dentro), do que não é nosso, daquilo que pertence à realidade externa (fora).

A sensação de, ás vezes, se esquecer  de si, pode estar ligada à dificuldade de “se perceber”, ou seja de se diferenciar do mundo externo, e dos que nós amamos.

Para que o nosso psiquismo possa se constituir, ele precisa se sentir envolto, abraçado, por algo real que, ao limita-lo, o torna ma mesmo tempo “real”.

A busca do contato violento com o mundo externo (murros, jogar coisas para que façam barulho, dar cabeçada na parede) talvez seja porque a sua mente sente uma angústia profunda, como s estivesse pairando no nada, ou, como dizia Winnicott, como se estivesse caindo para sempre. A presença sensorial de algo externo, ajuda a perceber que eu sou “real”, que eu existo.

O cérebro que balança também aprece não estar contido em um “recipiente” que o contém e lhe dá estabilidade.

Enfim, tudo isso nos remete a estados psicológicos muito primitivos, ligados a falhas iniciais no cuidado. É muito difícil caracterizar esse mal-estar, “interpreta-lo”, como talvez tenha tentado sua psicóloga, pois esses estado se caracterizam por não serem “representáveis” em imagens concretas. O que não podemos representar, também não podemos nomear. Como dar um nome a que não identifico como claramente definido por suas formas? Como dar um nome a um vulto que me aparece no meio da neblina?

É possível que o seu estado esteja ligado a ansiedades muito primitivas, dificilmente detectáveis por uma terapia normal. Somente determinadas linhas terapêuticas conseguem trabalhar com esses estados psíquicos. De qualquer forma, seria importante que a senhora consultasse um psiquiatra para verificar se existe algum tipo de distúrbio de caráter físico.{jcomments on}

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