Tenho medo do casamento. Para mim, é um inimigo desconhecido. O que faço?
Por que o casamento seria percebido como um “inimigo”? A escolha do termo “inimigo desconhecido” certamente não é casual. Tudo o que é desconhecido é apavorante, pois remete a algo que não pode ser nomeado, a algo sem forma, não visível, mas presente. O primeiro desafio é tentar “nomear” esse inimigo desconhecido, para tirá-lo da sombra.
Evidentemente aqui não podemos adentrar o campo das fantasias inconscientes do nosso leitor, mas podemos tentar ver a questão a partir dos significados que o discurso social atribui ao casamento.
Um primeiro desafio que se impõe para o psiquismo vem do fato de o casamento se apresentar como um compromisso estável, apesar da maior facilidade, no âmbito da legislação civil, de interrompê-lo através do divórcio. O belo filme Para Sempre (Vow), por sinal baseado em uma história real, mostra a força do compromisso que o casamento ainda carrega. Embora separar-se seja mais fácil, não há dúvidas que duas vidas que se unem não podem romper esse laço sem consequências materiais e emocionais relevantes. Existe uma força simbólica poderosa no laço do matrimônio e ignorá-la, embora possa ser uma tendência, traz graves consequências para a psique.
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Há ainda outro elemento, ligado à maneira como a sociedade de consumo nos apresenta qualquer “objeto”, que torna angustiante pensar no casamento como um laço estável: Tudo hoje pode e deve ser substituído por algo mais novo e mais funcional, assim que apresente os primeiros sinais de desgaste. O casamento é também um “objeto” desse tipo e é apavorante pensar na possibilidade de uma relação tão significativa ser substituída pelo por outro “produto” mais interessante disponível no mercado a qualquer momento.
Outro fator social que preocupa os que pensam em casamento é relacionado à infraestrutura econômica que isso envolve. Infelizmente nem todos conseguem fugir dos apelos de consumo que estão ligados ao ritual social do casamento. O teor da festa, o número de convidados, a decoração, os convites, o vestido da noiva, a futura moradia, etc. fazem parte de um kit mais ou menos caro que a sociedade impõe aos que casam. Não é estranho que isso também represente uma considerável fonte de ansiedade e de angústia, diante das incertezas que o futuro apresenta.