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Vida amorosa e sexualidade

Casar em tempos de mudança

Neste breve artigo gostaria de sintetizar, sob a perspectiva da psicanálise, alguns aspectos que introduzem uma mudança na maneira como hoje o homem e a mulher enfrentam a vida em comum e a constituição da família.

O mundo contemporâneo, ao frisar a igualdade entre os sexos acabou desconsiderando que o psiquismo do homem e da mulher não são 100% iguais. Há expectativas diferentes no plano inconsciente. O Outro, na vida amorosa, tem uma função de espelho. Mas o que será que o homem e a mulher querem ver nesse espelho? Será a mesma coisa?
O que a mulher espera do marido-espelho? Diria em primeiro lugar alguém que a prefira a todas as outras, que a considere especial, que faça tudo por ela, reforçando sua estrutura narcísica. Ela busca no marido um homem “potente”, fálico, não apenas sexualmente, mas também psiquicamente, alguém que saiba se impor, que se destaque, que lhe dê segurança e proteção.

Isto não impede que algumas mulheres, por terem uma atitude fálica, tendam a se impor e estar no controle, se apoderando no plano simbólico do “falo”.  Ao casar com um marido fraco e dependente, acabam tomando conta das coisas, mas internamente vivem uma constante insatisfação. Apesar de uma parte do psiquismo delas não permitir (pois provavelmente fogem de homens mais “potentes”), outra parte gostaria de poder ter um homem fálico que as ampare.

O que o homem espera da mulher-espelho? A expectativa mais comum é de ter alguém que o admire e aprecie seus feitos, um espelho que, ao refletir sua imagem, lhe dê confiança e autoestima, reforçando sua estrutura narcísica. No entanto, não é sempre isso que acontece. Quando a estrutura do eu masculino for mais fraca, provavelmente por causa de uma mãe superprotetora ou hiperpresente, o homem pode também procurar na mulher uma mãe substituta que cuide dele. Mesmo assim, esse feminino superprotetor e hiperpresente acaba por frustrá-lo e provavelmente condená-lo a lutar com a tendência depressiva e a castração.

Tudo isso para dizer que a pretensa “igualdade” hoje tão defendida não funciona assim no plano inconsciente. O desrespeito das identificações inconscientes com os aspectos masculinos e femininos, presentes tanto no homem como na mulher, mas com ênfase diferente, pode levar a  dificuldades muito grandes no relacionamento.

Outro aspecto crítico na relação do casal moderno é a sensação de instabilidade diante do número elevado de casamentos que fracassam e diante de uma maior tolerância social para que pessoas casadas se relacionem com outros parceiros. Já que a força do vínculo “formal” é hoje bem menor e a sensação do casamento ser mais um artigo de consumo “descartável” como tantos outros faz com que o casal se sinta menos “protegido” do que antigamente, obrigando-o a ter que investir muito mais na capacidade de manter a relação e o vínculo em um plano satisfatório.

Há certamente outros aspectos em jogo que não são abordados neste artigo, mas um último aspecto me parece importante. Trata-se do despreparo dos jovens diante da vida a dois, devido a uma maior incidência de personalidades narcísicas e da dificuldade de enxergar o outro como ele é de fato. Tudo isso, misturado com as necessidades de uma vida a dois muito mais exigente por causa dos compromissos profissionais de ambos, é sem dúvida uma mistura explosiva.

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