O mundo encantado das festas infantis

Uma das coisas que o Brasil me ensinou é a importância de celebrar o aniversário; um habito que não é tão comum em minha terra. Acho importante que uma vez no ano as pessoas que gostam de nós se manifestem para celebrar o nosso nascimento e nos digam o quanto somos importantes para eles.

Naturalmente isto vale também para as crianças, sobretudo a partir de certa idade. É saudável para o psiquismo da criança saber o quanto ela é importante para os seus pais, sua família e também para os amiguinhos dela. Certamente pode ajudar a sua autopercepção e a sua autoestima.

 Infelizmente, na sociedade de consumo tudo vira um produto. Por que não explorar algo saudável acrescentando uma pitada de elementos destinados a alimentar a neurose do ser humano? Daí a ideia de celebrar os aniversários das crianças em grande estilo. Os bufês surgiram com esse intuito: oferecer aos pais e seus convidados um ambiente encantado ao estilo do mundo mágico da Disney (A disenyzação da sociedade, publicado pela Ideias & Letras, fala exatamente sobre esse fenômeno em escala maior).

Aos tradicionais balãozinhos e ao bolo com as velinhas se acrescentaram uma infinidade de variações destinadas a tornar o evento cada vez mais apoteótico. Luzes de discoteca, lasers, música eletrônica, chuva de papeis dourados, fantasias, suíte do aniversariante, jogos eletrônicos e brinquedos variados, são apernas algumas das variantes desse evento espetacular que se tornou o aniversário de uma criança.

O céu é o limite para a imaginação dos donos de bufês, preocupados em oferecer a seus clientes um diferencial competitivo cada vez mais sofisticado. Naturalmente a sofisticação tem seu preço e se o cliente não quiser passar por pobretão ou “mão de vaca”, deverá gastar alguns milhares de Reais para que o seu pimpolho tenha a festa “merecida”.

O espetáculo se torna ainda mais anacrônico quando a criança tem apenas um ou dois anos de vida. O clima extremamente excitado, o excesso de estimulação visual e sonora, o exagero de adultos querendo agradar o bebê contribuem para que a criança se sinta agredida e a festa corre o sério perigo de se tornar para ela uma tortura do ponto de vista psíquico. Enfim, parece que tudo está voltado para os adultos e quase nada para aa criança…

Mas e quando a criança é maior, o que torna problemático um evento desse tipo? Poderia resumir a resposta em apenas uma expressão: a exaltação maníaca. A criança precisa se apropriar da própria existência e do próprio valor, mas sem excessos que a levem a cultivar um narcisismo maníaco. Ela é importante para a sua família, para os amigos e para o ambiente que a acolhe, mas não é nenhum super-herói e tampouco a última bolacha do pacote. É apenas uma criança que está se inserindo no mundo, onde deverá descobrir o quanto é árduo disputar o espaço compartilhado com o Outro. Meninos(as) mimados(as) e narcísicos(as) terão dificuldades para se inserir no ambiente escolar e serão sérios candidatos(as) a se tornar adolescentes problemáticos(as).

Bom, não precisamos nos angustiar. Preocupadas em criar sempre novos diferenciais competitivos já existem empresar de eventos infantis que oferecem festas de aniversário mais saudáveis, tipo um piquenique no bosque (parque ou sítio) com os amiguinhos… Seja bem-vindo o aniversário psiquicamente sustentável…

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