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Vida amorosa e sexualidade

Namoro à distância

Por motivos de trabalho meu namorado teve de ir embora para o Pará. Não terminamos o relacionamento porque temos planos para o futuro. Confesso que está difícil ver a pessoa que amo apenas duas vezes ao ano. O senhor acredita que namorar dessa forma pode ser possível? (Anônimo)

A pergunta me fez lembrar o refrão de uma canção italiana dos anos 70 que pode ser traduzido mais ou menos assim: “A distância é como o vento que apaga os fogos pequenos, mas transforma os grandes em um incêndio”. Mas será que isso é verdade? De certa forma, do ponto de vista psicológico, uma vez que é subtraído dos percalços do dia-a-dia, o relacionamento amoroso pode passar a ser vivido em uma dimensão idealizada, que é revestida de uma carga emocional muito mais forte (o incêndio), como tudo o que é idealizado.


Apesar do investimento emocional que mobiliza de forma muito intensa a nossa mente, o namoro à distância nem sempre pode ser saudável do ponto de vista psicológico. Relacionamentos desse tipo, uma vez que passam a ser vividos no dia-a-dia, em contato com a realidade e com a maneira de ser real de cada um, podem trazer decepções profundas.

 O namoro não é apenas um período de tempo intermediário entre o ficar com alguém e passar a viver com ele, mas é um momento importante para a construção de uma relação sólida. Durante o namoro o encantamento inicial que facilitou o início da relação vai se diluindo para dar lugar a um vínculo mais sólido, baseado na possibilidade de duas pessoas compartilharem aspectos da realidade e de seu mundo interno (suas formas de ser).

O namoro a distância pode acentuar uma relação neurótica com o outro e impedir que se construa um vínculo verdadeiro que possa levar ao casamento. Caso isso aconteça, ao casar, cada um se verá obrigado a conviver com uma pessoa de certa forma “desconhecida”, com a qual pode ter dificuldade de estabelecer uma relação baseada na cumplicidade e na partilha.

No caso em questão contudo o casal já viveu um tempo de namoro antes de se separar, portanto já ‘teve como experimentar um relacionamento mais próximo e “real”. Se vale ou não a pena manter esse relacionamento, vai depender do vínculo que foi construído antes da separação. Neste sentido cabe perguntar como foi tomada a decisão de se separar. Foi uma decisão tomada de comum acordo? O que o casal decidiu a respeito disso? Seria temporária, ou isto envolveria que um dos dois abrisse mão de seus planos para se adequar aos planos do outro?

Seja como for, uma decisão desse tipo sempre comporta um elevado grau de cobrança interna que consciente ou inconscientemente vai acabar sendo projetada no outro. É importante saber que, bem o mal, o casal deverá lidar com esse tipo de “cobrança” e elaborá-la emocionalmente.

Além disso, existem as eventuais desconfianças que um pode passar a alimentar em relação à capacidade do outro se manter “fiel” à relação à distância, sem se envolver com outras pessoas. Tanto os ambientes de trabalho, como os ambientes sociais oferecem hoje um elevado grau de promiscuidade que não torna fácil permanecer fiel a um namoro á distância, mesmo para quem alega gostar do outro.

Enfim, namoro à distância não é fácil e representa um desafio que nem todo casal consegue superar. O desfecho da separação {jcomments on}dependerá do real grau de envolvimento entre os dois: neste sentido talvez a canção italiana esteja certa.

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