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Vida amorosa e sexualidade

Meu ciúme está acabando com o casamento

Sou casado, tenho 37 anos e minha esposa 27. Casamos muito jovens e nosso início como casal foi um tanto conturbado, devido a nossa pouca experiência de vida. Deixei a cerveja de final de semana e fiquei mais doméstico. Mas, depois que nossos dois filhos cresceram, minha esposa voltou a trabalhar. Os problemas retornaram porque passei a ter muito  ciúme dela. Tentei conversar sobre isso, ela pareceu entender a situação no início, mas o casamento está praticamente acabado. Ela me xinga e diz que eu a ofendo na frente dos outros, por exemplo. Sei que devo mudar, mas também sou bom pai, sou carinhoso, só não sei o que fazer agora para recuperar o amor de minha mulher. Ajude-me. Paulo – Belo Horizonte

O primeiro passo para recuperar o amor de sua mulher é recuperar o amor por si mesmo. Por trás do sentimento do ciúme estão experiências emocionais complexas que geralmente se originam em uma sensação de esvaziamento e de não valor. O problema portanto não está na pessoa objeto do ciúme (no caso sua mulher), mas em quem é ciumento.

Cinema,  TV e  literatura freqüentemente confundem relação amorosa, e paixão. Apaixonar-se é uma experiência intensa e emocionante. De início pode ter efeitos benéficos, mas, com o tempo, a paixão acaba se mostrando doentia, neurótica, ou até psicótica (os crimes passionais não são raros), caso não possa ser elaborada para se transformar num relacionamento mais maduro.

No apaixonamento, ocorrem fenômenos ligados a um funcionamento particular do psiquismo que projeta fora de si, no outro, algo que é desejado ou odiado, mas que, por várias razões, não pode ser reconhecido dentro de si.  A projeção “coloca” no outro algo que é intensamente amado ou rejeitado. Algo que é do sujeito, mas que não pode ser acolhido por ele. A projeção facilita o processo de idealização da pessoa amada, que não pode ser acolhida em sua realidade, pois esta comporta uma certa ambigüidade, aspectos bons e ruins. Inicialmente os aspectos ruins são ignorados, vê-se no outro apenas aspectos bons que são idealizados. Mas, por se tratar de aspectos que, embora sendo  “colocados” no outro, são desejados para si, há também uma sensação de falta (“não vivo sem você”; “você é tudo para mim”, etc.). É como se algo que nos pertence tivesse sido roubado pelo outro. O outro, uma vez idealizado, se torna o nosso carrasco, e passa a ser também odiado. Estamos falando de sentimentos em grande parte inconscientes e portanto não percebidos de forma clara. Tudo isso explica o sentimento de posse, que se instala nesse tipo de relacionamentos. O outro, por ser o depositário de algo que nos pertence, passa a ser percebido como uma posse. É inútil dizer que esse tipo de sentimentos nos tornam emocionalmente frágeis na relação com o outro, despertando nele sentimentos de culpa, cujo par inconsciente, são sentimentos de raiva. Por trás disso, temos um vínculo de fusão com o outro, que torna difícil distinguir o que é dele e o que é nosso.  Os dois mundos se confundem. Um processo mútuo de projeções é ativado, com resultados emocionais desastrosos.

Como fazer então quando esses sentimentos nos dominam? Nem sempre é fácil reagir sozinhos a essa situação. Muitas vezes torna-se necessária uma ajuda profissional. De qualquer forma, é importante poder encontrar em nós mesmos sentimentos de autovalorização, de auto-estima. Tentar nos “separar” do outro também é importante. Não estou falando em separação física (embora às vezes se torne inevitável), mas na possibilidade de cada um poder ser consciente de sua própria autonomia e individualidade, de seus aspectos bons que podem ser “habitados”, sem que seja o outro a nos autorizar a ‘habitá-los” com os seus elogios, com o seu olhar complacente. {jcomments on}

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