Ser pai e mae em tempos de mudança

A forma como o casal vive hoje certamente vai se afastando paulatinamente dos modelos que inspiraram os casais no século XX. Cada vez menos podemos imaginar a família como sendo composta por um pai que trabalha e uma mãe que fica em casa cuidando do marido e dos filhos.

A mulher ocupa um lugar cada vez mais relevante no mundo do trabalho e o homem se vê obrigado a compartilhar a responsabilidade de cuidar de alguma forma dos filhos. Isto quando a perda do emprego não leva os papeis a se inverterem, fazendo com que o homem fique em casa e a mulher trabalhe.

No entanto, mesmo quando a situação externa sugere uma mudança de padrões de comportamento e divisões de tarefas mais justas, nem sempre a mudança ocorre de fato, com a rapidez esperada. Os homens ainda são criados por mulheres que veem o papel masculino bem pouco envolvido com tarefas domésticas. Por sua vez, as jovens que casam, na maioria das vezes, também são pouco familiarizadas com os papeis femininos de antigamente.

Para determinadas camadas sociais, especialmente no Brasil (em outros países seria um luxo extremamente caro), está se tornando comum incluir no orçamento do recém-nascido uma enfermeira e eventualmente a babá, não apenas para permitir que a mãe continue trabalhando, mas também porque as mães não querem abrir mão da vida que tinham antes de dar à luz. Nas camadas economicamente menos favorecidas as substitutas podem ser a mãe, a irmã, uma tia, o berçário, etc. Isto faz com que também o pai se sinta autorizado a manter sua vida normal, mais ou menos parecida com aquela que tinha antes do filho nascer.

Os bebês de hoje tendem a ter que lidar mais cedo com a ausência dos pais, inclusive por causa das rotinas de trabalho cada vez mais exigentes. Por outro lado, isto não impede que o pai substitua a mãe em determinadas tarefas e, portanto, seja visto como um prolongamento dela. Os papeis masculino e feminino ficaram menos delimitados do que antigamente e isto pode trazer consequências psíquicas para a criança, assim como já traz para a manutenção do casamento.

Que influência isto tem no psiquismo da criança em busca de estabelecer suas identificações com os papeis masculino e feminino? O Complexo de Édipo apontado como um momento essencial na constituição do psiquismo continua como Freud o via no século XIX? Que consequência isto tem para que o processo de castração seja assimilado tanto pelo menino como pela menina, permitindo que se forme a ideia de lei e de limite, associados à presença do elemento masculino? Parece cada vez mais frequente assistirmos a cenas em que crianças testam seus limites junto a pais e a professores estupefatos com tamanha onipotência infantil.

O elevado numero de separações é outro importante aspecto que introduz mudanças no relacionamento entre pais e filhos, levando a criança e os próprios pais a conviverem com situações psiquicamente complexas. Assim como é complicado para o filho lidar com os pais substitutos, frequentemente vistos como inimigos por terem roubado o pai e/ou a mãe do convívio que eles tinham antes da separação, é difícil para um pai ver a sua filha conviver com o novo “namorado” da mãe, assim como para a mãe é complicado ver seu filho com a “namorada” do pai. Novas figuras se inserem no já complicado convívio familiar, trazendo novos desafios e exigindo dos envolvidos uma maturidade emocional que nem sempre existe.

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