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Vida amorosa e sexualidade

Casamentos que não dão certo

Na Bíblia, em Gênesis, está escrito que Deus criou o homem e a mulher à sua imagem, os abençoou e lhes disse “sejam fecundos, crescei e multiplicai-vos”. Acredito que este foi o primeiro casal, Adão e Eva, que Deus uniu e abençoou para viverem um ao lado do outro. Mais tarde, Jesus elevou o matrimônio a um sacramento indissolúvel. Mas hoje tantos casais estão se separando. Não estão mais cumprindo o que prometeram no altar e na presença do padre ou diácono, das testemunhas e da comunidade. Qual será o motivo dessa separação? Adolfo Wiemes – Santa Rosa de Lima (SC)

Apesar do ideal cristão prever a estabilidade do casamento “até que a morte os separe” e o catolicismo pregar a indissolubilidade da união celebrada na igreja, na presença de um padre ou diácono, a realidade parece questionar a viabilidade desse ideal.

Alguns dados do IBGE parecem confirmar essa afirmação. De 1991 a 2002 o número de casamentos caiu, enquanto o número de separações aumentou. De 1991 a 2002, a queda do número de casamentos realizados no civil foi de 4%. No que diz respeito às dissoluções de casamento, entre 1991 e 2002, houve aumento de 23.470 (30,7%) no número de separações e de 45.375 (55,9%) no de divórcios. De acordo com o IBGE, o resultado é reflexo, em parte, do ingresso da mulher no mercado de trabalho, garantindo maior independência do cônjuge masculino.

Ainda de acordo com o IBGE, no Brasil a duração média do casamento, antes da separação, é de 10 anos. Enquanto a cada 1000 habitantes 4,1% casam (dados de 2002), 0,7% se separam. É uma taxa alta, mas que ainda não atinge os níveis mais elevados dos EUA, onde quase 50% dos casamentos resultam em separação. Na Europa os índices são também elevados.

Dados estatísticos não questionam o valor intrínseco dos ideais cristãos sobre o casamento, mas certamente fazem pensar, pois a realidade vivida por um grande número de pessoas não acompanha os anseios cristãos sobre a família. Surge espontânea a pergunta: por que isto está acontecendo?

Recentemente, uma novela transmitida em cadeia nacional mostrou como o casamento é vivido na cultura indiana. Ainda crianças, o menino e a menina são destinados pelas respectivas famílias a formarem um novo lar. Mais tarde, na idade adulta, eles se conhecem mais de perto e iniciam o noivado, seguido pelo casamento.

Nesse contexto cultural, o casamento não é o coroamento de um sonho romântico, como no Ocidente, e sim o início da construção de um novo lar, baseado no convívio entre um homem e uma mulher que foram destinados pelas famílias a ficarem juntos e que começam a se conhecer mais de perto.

Tudo isso soa muito estranho para a nossa maneira de conceber a vida amorosa e o casamento. O que alimenta o encontro entre um homem e uma mulher no Ocidente é, de certa forma, o acaso. Dois jovens se encontram, na faculdade, em uma viagem, no trabalho, no ônibus, etc. e se sentem irresistivelmente atraídos.

Sabemos que o que determina a atração, na maioria das vezes, é um enganoso processo projetivo, que leva a buscar no outro uma imagem idealizada de homem ou de mulher. O namoro geralmente serve para pôr em cheque tais processos projetivos, mas, se tudo der certo, o casal sobrevive, pois geralmente ainda se conhece de forma superficial e o casamento se apresenta como o grande ponto de chegada que acaba varrendo por debaixo do tapete as diferenças.

Uma vez casado, o casal realizou o seu sonho. À diferença do casal indiano, o seu casamento é um ponto de chegada e não de partida. Na realidade, porém, tudo está apenas começando. O casamento é uma experiência que precisa ser construída no dia-a-dia.

Depois de algum tempo os integrantes da dupla, que já não estão à mercê dos processos projetivos, descobrem a verdadeira realidade do outro e podem, diante disso, se desencantar por completo. Os dois passam a ser mais estranhos, um para o outro, do que as crianças indianas que se tornaram marido e mulher por vontade das respectivas famílias.

Naturalmente, este é apenas um aspecto que torna difícil fazer com que o casamento seja realmente uma união estável. O caráter formal e bastante pomposo, com que o casamento é celebrado, pode fundar a união sobre a falsa segurança que vem de saber que tudo foi de “papel passado”, deixando para trás a real preocupação de construir uma união estável.

Se a isso acrescentarmos a sensação de que hoje tudo é “descartável”, também o casamento passéa a ter um “prazo de validade” bastante curto. Neste caso, o que determina o fim da união do casal é a sensação de que deve haver “no mercado” alguém mais adequado, mais interessante e mais atraente. Geralmente a decepção é muito grande quando se constata que é muito fácil trocar seis por meia dúzia, pois o novo produto, embora venha com um design mais avançado tem também seus problemas, que tornam o antigo mais confiável, já que, pelo menos, é conhecido.

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