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Como lidar com os “sem noção”

Como lidar uma sacudida em uma pessoa  “sem noção” sem magoá-la?

O mundo está cheio de pessoas “sem noção” e, pelo visto, o futuro nos obrigará a lidar cada vez mais com esse tipo de personalidade. Pelo menos é o que desconfio ao observar como muitas crianças são educadas hoje. A noção de limite é cada vez mais fraca, a ponto de parecer demodé (saída da moda).

Se em casa os pais têm dificuldade de estabelecer limites seja porque eles mesmos não têm noção do que é ter limites, seja porque se sentem culpados por não estar presentes ao lado dos filhos como deveriam, a escola está longe de oferecer um contraponto que exija dos alunos um comportamento adequado no processo de socialização. No máximo a direção intervém quando percebe que determinado aluno está criando situações insustentáveis. No segundo grau então, a escola está inteiramente preocupada com o desempenho escolar e as avaliações do MEC, deixando completamente de lado os processos educativos que não “caem” no ENEM e no vestibular.

Diante desse quadro, como lidar com o crescente número de “sem noção”? Não existe uma fórmula pronta para isso, pois tudo depende do quanto o outro é “sem noção”. A expressão de fato se refere a um comportamento psíquico que pode variar envolvendo desde personalidades narcísicas e portanto invasivas, até psiquismos próximos daquilo que a psicanalise classificaria como perversão, um desvio que pode assumir formas e graus diferentes de expressão, até beirar a psicopatia.

Evidentemente a pergunta em pauta se refere a algum “sem noção” doméstico ou pertencente ao círculo de amigos ou colegas, pois a preocupação do nosso leitor é de não magoá-lo.

Infelizmente o “sem noção” é um carro desgovernado que somente para quando bate em um muro ou em uma barreira. Evidentemente se o obstáculo for um guard rail pode recolocá-lo de volta na estrada sem grandes danos, mas se for um muro os danos podem ser maiores, tornando o embate mais agressivo.

Q que quero dizer é que esse tipo de personalidades precisa de “contenção”, pois sua dificuldade é justamente poder lidar com o mundo “não–eu”, com a realidade do Outro. No caso de personalidades narcísicas isso ocorre porque o “foco” de atenção é o mundo interno da pessoa, no caso do perverso, o problema está no uso que ele faz odo mundo externo, que é inteiramente subjugado ao seu desejo.

Um narcísico pode falar horas a fio dele mesmo, e interrompê-lo bruscamente quando finalmente você toma a palavra, dizendo que está com pressa. Um perverso pode fechar todo mundo no trânsito e mostrar o dedo do meio quando alguém buzina, mas achar absurdo que alguém o feche, pois para ele não existe uma norma a ser seguida; ele faz a norma a seu belo prazer e de acordo com o interesse do momento.

Se você tiver que ser um guard-rail ou um muro, isto dependerá da gravidade da invasão praticada pelo “sem noção” e do grau de periculosidade que ele representa. Reagir com violência pode ser fatal se quem está na sua frente é um psicopata, mas ser um capacho nas mãos de uma personalidade narcísica ou de um perverso é igualmente perigoso e estressante. A contenção é necessária. Cabe a cada um avaliar a situação e perceber a forma e a intensidade com a qual aplica-la, não apenas no seu interesse, mas também no interesse do “sem noção”. {jcomments on}

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