Fazer exercícios físicos faz bem à mente? Se sim, qual é a relação entre os dois? Mariana, de Minas Gerais
Cuidar do corpo
Intermináveis horas de clínica, ouvindo meus pacientes, me convenceram que a relação que cada um estabelece com o próprio corpo é tão complexa como as relações que estabelecemos com os outros. Da mesma forma, podemos dizer que a relação que estabelecemos com o nosso corpo é também um sinal da maneira como nos relacionamos com o mundo.
Assim como nem todo exercício físico faz bem para a saúde, nem sempre se submeter a uma rotina de exercícios é saudável do ponto de vista psíquico. Uma afirmação desse tipo pode surpreender em uma época em que freqüentar uma academia representa para alguns um “mandamento” tão importante quanto para outros ir à missa aos domingos.
O culto do corpo e da aparência passou a ser uma exigência do meio em que vivemos. A mídia, as conversas com os amigos, e até o mal-estar na hora de comprar uma roupa nos remetem inexoravelmente à ditadura do corpo, Soube recentemente do caso de uma médica que foi descartada por um dos maiores hospitais de São Paulo justamente pelo fato do seu corpo não ser “adequado” aos padrões estéticos da instituição, apesar de ter demonstrado no processo de seleção ser de longe a melhor profissional disponível.
Expressões como “malhado”, “sarado”, “bem definido” integram o nosso vocabulário e passam a definir o “corpo” como objeto do desejo. O enorme crescimento da indústria estética e toda uma série de produtos ligados ao aprimoramento do corpo, desde as academias aos anabolizantes, fizeram do corpo um grande negócio.
Estamos falando aqui do “corpo” como objeto de consumo, que deixou de ser um corpo ligado a uma mente, algo que sinaliza a presença de um ser humano, para se tornar um fetiche, ou seja um objeto que está no lugar de outro ausente, ou esvaziado.
O movimento interno que está por trás da opção de cuidar do próprio corpo, e portanto de fazer exercícios físicos, determina se os exercícios físicos são saudáveis ou não para a mente. Por esse motivo podemos dizer que a relação com o corpo pode ser comparada a uma relação qualquer. Ela pode ser saudável ou não. Depende da maneira como ela se estabelece e se mantém.
Se “cuidar” do próprio corpo é uma exigência imposta de fora para dentro, pela pressão que a sociedade e a mídia exercem sobre cada um de nós, os cuidados físicos passam a ser percebidos como algo persecutório e invasivo. A tendência será do inconsciente sabotá-los, ou então deles se tornarem uma forma desprazerosa de autopunição.
Se, ao contrário, o “cuidar” do próprio corpo for o fruto de um processo interno que leva a uma maior autovalorização e a cuidar mais de si mesmo, os exercícios físicos poderão representar algo muito saudável para a mente. Neste caso, eles poderão se tornar um momento importante de encontro consigo mesmo, um momento prazeroso que tonifica a mente com novas energias.