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Trabalho e sentido da vida

As perguntas sobre o sentido da vida começam a aparecer com mais insistência nos consultórios de saúde mental, repercutindo em uma queixa existencial profunda. Não importa se o profissional consultado é psicanalista, psicólogo, coach ou psiquiatra, ele deverá lidar com essa questão de fundo.

Em particular, o questionamento afeta quem sofre de depressão, melancolia ou síndrome do pânico. Trata-se de um mal-estar difuso, que traz consigo os sinais de uma violência que não é somente individual e sim coletiva.

O que afeta o psiquismo não é apenas a violência devida a ambientes profissionais competitivos, à insegurança, às pressões por resultados e aos diferentes tipos de assédio moral que sutilmente afetam quem trabalha hoje em uma empresa. Trata-se de uma sensação mais abrangente, um sentimento que poderia ser nomeado como de “inutilidade”. A pergunta que se impõe ao psiquismo é “Para que tudo isso?”

Talvez, como certa vez constatou a psicanalista francesa Françoise Dolto ao falar sobre a psicose, a sanidade dos “doentes” possa alertar sobre a doença dos “normais”. De certa forma, o depressivo e o melancólico nos remetem à profunda doença que afeta o mundo contemporâneo, o novo mal-estar da civilização. O sentimento que predomina nesse tipo de síndromes é exatamente um senso de inutilidade do viver cotidiano, que resulta em uma gradual desistência da vida, em um distanciamento e em um esgotamento psíquico que, em casos extremos, pode até levar ao suicídio.

O olhar do depressivo paira sobre um mundo esvaziado, onde os vínculos são precários e muitas vezes “falsos”. As solicitações do ambiente são constantes, asfixiantes, mediadas por uma série de equipamentos (gadgets), bugigangas eletrônicas das quais ele não consegue se esconder a não ser prolongando ao máximo o seu sono, na esperança de nunca mais acordar.

No seu horizonte não há “objetos” que possam ser erotizados. A vida do dia-a-dia se torna uma inútil corrida contra o tempo, para passar a viver uma vida “sem tempo”. Daí a sensação cada vez mais comum de que o tempo passa rápido demais. É como se houvesse uma percepção de que o passar do tempo não foi “marcado” por experiências significativas que lhe conferem um ritmo e um respiro, e sim apenas por vivências (no sentido benjaminiano) vazias de sentido e desconectadas entre si.

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