Sempre que estou sozinho tenho a necessidade de comer, mas a satisfação nunca chega. Qual é o problema?
O apetite descontrolado está associado a mecanismos psíquicos inconscientes que têm como seu denominador comum a ansiedade. Um dos fatores que gera ansiedade é a sensação de “falta”. A solidão, percebida como estado de abandono e de rejeição, é um dos fatores que provoca essa desagradável sensação.
A falta pode estar associada não apenas à ausência do “objeto do desejo” (no caso a pessoa amada, o amigo, o colega, etc.), mas também à sensação de que o “objeto presente e acessível” é insuficiente e inadequado a preencher a falta. Algo do tipo: amo quem não está ao meu alcance e desprezo quem me quer.
Neste sentido, a voracidade — uso esse termo em sentido amplo, pois também o cigarro, a bebida e até a compulsão pelas compras entra nessa categoria — pode estar vinculada tanto a uma necessidade de compensar a frustração proveniente da sensação de falta, como também pode ser uma forma de introjetar compulsivamente algo que parece nunca saciar a “fome” emocional de quem sofre dessa síndrome.
A voracidade oral que leva a pessoa a fazer um uso compulsivo da comida, do cigarro e da bebida em muitos casos está associada também a uma espécie de voracidade emocional. O convívio com pessoas “vorazes” pode ser extremamente difícil, pois sua necessidade emocional é percebida como sendo muito intensa, dando a sensação de que nunca será possível satisfazê-la. Isto provoca inconscientemente sentimentos de culpa e raiva em quem se percebe tão inadequado para saciar a fome de afeto do outro.
Paradoxalmente quem é voraz, quanto mais come (em sentido figurado) mais sente fome, pois nada preenche sua sensação de falta e seu senso de frustração. Estamos falando de um sofrimento psíquico bastante intenso, com consequências físicas (obesidade, alcoolismo, etc.), práticas (tendência a se endividar) e emocionais (dificuldade a manter relações satisfatórias) graves. UYm dos casos em que a terapia é altamente recomendada.