Sofrimento, tristeza, angústia e medo. Como se pode diferenciar um sentimento do outro? (Marcos António Figueredo – Curitiba – PR)
Nem sempre é fácil definir exatamente qual é o mal-estar que assombra a nossa alma. Percebemos que há um sofrimento interno, mas não sabemos exatamente dizer se é tristeza, depressão, angústia ou medo, ou uma mistura de tudo isso.
Nomear os próprios sentimentos pode parecer uma tarefa fácil, mas não é. Os conteúdos do nosso mundo interno são em grande parte inconscientes, o que distorce a nossa percepção consciente. Isto acontece de maneira especial na presença de conteúdos psíquicos que são aflitivos e que, portanto, tendem a ser “recalcados”, ou seja, ocultados justamente para aliviar o sofrimento.
Além disso, existe uma pressão social para afastar esses conteúdos aflitivos como algo indesejado e inoportuno para o ser humano “normal”. O imperativo “busque sua felicidade” predomina incontestado, mesmo ue isso signifique provocar a infelicidade do outro. A necessidade de afastar tais sensações que remetem a “falhas psíquicas” se torna cada vez mais operante, apesar dos cenários humanos serem cada vez mais ambíguos e conturbados.
Nos ambientes corporativos isso é particularmente evidente. Um bom funcionário não deve carregar consigo seus problemas. Ele é convidado, até pelos vários coachs de plantão, a participar do “teatro corporativo”, vestindo o papel de um personagem, cujo script foi definido pela empresa. Quem não segue o script é demitido.
Infelizmente isso não acontece apenas no mundo corporativo. Nas redes sociais e até entre amigos há uma silenciosa cobrança para sermos “leves”, “para cima”, “para frente”, ou então “alinhados” com os sentimentos que circulam no momento. Uma manifestação subjetiva da personalidade parece ser inoportuna, mais ainda se for atravessada por sentimentos negativos.
Naturalmente não faltam médicos e laboratórios dispostos a corroborar essa cobrança sob o pretexto que todo ser humano tem o direito de “ser feliz”. Cabe perguntar.: direito ou dever?
Enquanto isso o mundo externo, que ainda não se alinhou com essa “moda”, manda sinais preocupantes: terrorismo, guerras, catástrofes ecológicas, crises econômicas e políticas… Mesmo assim as notícias ruins chegam mitigadas pelos comerciais, que evocam um mundo fantástico, onde tudo é glamoroso e sedutor.