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Quando tomar cafe se torna um vício

Sou viciado em cafe, tomo de 6 a 10 vezes por dia. Se eu pudesse ficaria segurando uma xícara o dia inteiro. Será que preciso de ajuda psicológica?

Tomar uma xícara de café pode não ser apenas um prazer da gula, mas um ritual que marca a rotina do dia-a-dia. Neste caso o que realmente é “investido” não é o prazer em si (o prazer de tomar café), mas o ritual.

Mas qual é a necessidade de recorrer a esse tipo de rituais que passam a cadenciar a rotina diária de forma tão obsessiva e incômoda? Para a psicanálise, a origem desse tipo de neurose, chamada de neurose obsessiva (psiquiatricamente diagnosticado como Transtorno Obsessivo Compulsivo [TOC]), está relacionada a uma defesa que o psiquismo cria quando se depara com “desejos” que são tidos como inadmissíveis e portanto são colocados em baixo do tapete (recalcados). A energia psíquica que investia o “desejo recalcado” contudo continua operando e busca um alívio sendo desviada para um substituto “aceitável”.

O ritual escolhido costuma manter algum traço da ideia associada ao desejo reprimido. Se o ritual de lavar as mãos repetidamente remete à culpa, o ritual de tomar café compulsivamente remetee à dificuldade de pôr para dentro de forma prazerosa aspectos do mundo externo (simbolicamente o leite materno). Tomar café, beber ou fumar um cigarro pode remeter a um prazer oral, parecido com aquele da amamentação.

Esse tipo de funcionamento obsessivo é frequentemente associado à depressão ou à melancolia. Na depressão e sobretudo na melancolia há uma retenção da energia psíquica que se manifesta sob a forma de paralisia ou há uma expulsão da mesma de forma descontrolada através de atuações agressivas ou eufóricas (estado maníaco). Nada pode ser assimilado pelo psiquismo como um “alimento bom” (algo positivo). Daí a tendência “evacuatória” do depressivo, para quem tudo vira um cocô.

Tomar uma bebida que traz um alívio prazeroso, substitui essa impossibilidade de se “alimentar” de coisas boas, sem contar que o café, por seu poder estimulante, pode agir quimicamente como um “remédio” para a desvitalização que essas duas situações psíquicas causam.

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