Os propósitos do ano novo
Lembrei nestes dias de uma vinheta que vi tempo atrás, não sei em qual revista. Dois rabinos estão no topo de uma duna, no deserto, perscrutando atentamente o horizonte. Aos pés da duna estão Jesus Cristo e um menino que puxa a sua túnica e pergunta: “O que eles estão procurando?”. Jesus responde: “O Messias”.
Em clima de fim de ano, a vinheta me fez perceber que muitas vezes somos como os dois rabinos: procuramos longe o que, na realidade, está bem perto de nós. Creio que isso possa nos dar uma importante dica para os “propósitos” de fim de ano. Geralmente nessa ocasião buscamos algo que desconfiamos seja bastante difícil de se realizar: fazer um curso, perder dez quilos, não brigar com a mulher, aprender um idioma, ser mais organizado, comprar um apartamento, fazer uma viagem, etc.
Que tal, antes de formular o propósito, “escutarmos” o que o nosso Eu profundo nos sugere e investir naquilo que realmente tem valor para nós, deixando de lado os desejos que nos são imposto pelo meio em que vivemos?
Será por exemplo que eu preciso realmente fazer uma viagem para Nova Iorque, só porque todo mundo faz parcelando em 10 vezes e porque lá as coisas são mais baratas, ou prefiro simplesmente passar uns dias com amigos em uma pousada no interior de Minas Gerais, sem me endividar, curtindo a natureza, a comida caseira feita no fogão a lenha e os passeios de charrete.
Cada um de nós pode identificar dentro de si os “objetos cintilantes” que o Eu profundo investe, sem que a gente perceba. Um brilho nos olhos, uma fala mais empolgada, uma sensação profunda de bem-estar ao falar daquilo, são os sintomas de que estamos aproximando um desses objetos (isto é pessoas, situações, projetos, etc.) que são intimamente ligados aos aspectos mais profundos de nossa personalidade. Eles, de alguma forma, sintetizam o nosso ser, pois encerram a nossa experiência psíquica, o nosso passado, nossos valores e o nosso senso estético, ou seja, a forma de viver que é percebida internamente como sendo “bela”.
Dias atrás um executivo me falava de sua angústia em relação ao seu futuro profissional, quando de repente, ao me relatar uma experiência que ele tinha vivido ajudando um colega, seus olhos começaram a brilhar, sua fala se animou e ele passou a descrever com entusiasmo o que tinha acontecido. “Pronto – disse para ele – o seu Eu profundo já lhe deu a resposta: na realidade você acabou de descrever o que gosta de fazer. Você tem o dom de orientar as pessoas para se acharem profissionalmente quando perdem o emprego ou quando querem mudar de emprego. Esta é uma profissão, e você é bom nisso!”.
Ele viu em um breve relance o faiscar de um dos seus “objetos cintilantes” que o seu Self tinha investido com força, carregando-o de energia psíquica. Trata-se na realidade de uma experiência simples, que provavelmente todos nós temos feito em algum momento, sem registrá-la, sem perceber a sua importância.
Desejo a todos os meus leitores que, ao buscar um “propósito” para o ano que começa, possam encontrar o faiscar de um desses objetos. Certamente será uma experiência interessante e, o que é melhor, a garantia de que o propósito se realize é quase certa. {jcomments on}