Os signos podem interferir na personalidade de alguém ou é pura balela? Amanda Cardoso de Almeida, aparecida (SP)
Para a Psicanálise não é relevante saber se a teoria dos signos astrológicos tem algum fundamento “real”. Outras áreas do saber se ocupam disso, para demonstrar a importância do fenômeno do ponto de vista da antropologia, da psicologia social, da sociologia, da filosofia, da teologia, etc. O que interessa para o psicanalista é a importância que o recurso à astrologia adquire para um grande número de pessoas e o valor que lhe é atribuído do ponto de vista psíquico.
Podemos apontar pelo menos duas grandes “necessidades” do ser humano presentes no interesse pela Astrologia. Uma diz respeito ao autoconhecimento, baseada na suposição que os signos astrológicos interferem na personalidade do indivíduo. Outra diz respeito à necessidade de ter algum controle sobre o futuro, através da elaboração de um mapa que aponte as “tendências” astrais que a pessoa encontrará à sua frente, durante certo período de tempo.
Independentemente de saber se o recurso à Astrologia é apropriado ou não, acho interessante refletir sobre essas duas necessidades que, por sinal, estão também atrás de outras crenças que levam o ser humano a recorrer à numerologia, aos búzios, ao tarô, à leitura da mão, etc.
O autoconhecimento é uma necessidade já apontada pela filosofia. O oráculo de Delfo: ”Conhece-te a ti mesmo” é a pedra-angular da filosofia socrática e do seu método, a maiéutica, citado por Platão (Alcibiades, 128d-129) e Xenofonte. Séculos de pensamento filosófico tentaram responder às questões ligadas à necessidade do ser humano de conhecer sua origem, seu destino, o sentido de sua existência, de suas contradições, de seus conflitos (entre instintos, razão e vontade), o porquê do bem e do mal que o habitam e que o levam a atos heroicos ou a ações vergonhosas.
Tudo isso indica que o autoconhecimento não é algo simples. Talvez possamos dizer que seja essa a grande tarefa que percorre toda a nossa existência. Uma tarefa penosa e difícil, que exige honestidade e humildade, para chegar a compreender o que realmente somos e o que não somos.
Obviamente que, respondendo a essa necessidade profunda do ser humano, não faltam tentativas de simplificar o imenso desafio, oferecendo respostas prontas e caminhos facilitados, proporcionando um autoconhecimento que vem de fora para dentro, ao invés de fazer com que cada um enverede para o difícil caminho do “conhece-te a ti mesmo”, de dentro para fora.
Quanto à necessidade de conhecer o futuro trata-se de uma reação natural diante da ansiedade que o desconhecido desperta em nós. A necessidade do controle obsessivo pode tomar conta de nós, na medida em que a angústia da incerteza nos habita. Uma sinastria bem feita nos dirá se a pessoa que amamos é o nosso par ideal. Nossos problemas econômicos se resolverão desde que tomemos cuidados em fazer ou não fazer negócios em determinado período de tempo, etc. Enfim trata-se de caminhos facilitados, que aliviam a angústia de não saber o rumo que nossa vida tomará e que nos facilitam a angustiante tarefa de equacionar constantemente nossos sonhos com a realidade, assim como ela vem se apresentando, sem encantamentos e sem ilusões.