Joana é uma funcionária de uma empresa de médio porte. Trabalha na mesma firma desde que era solteira. Com os reajustes previstos pelos acordos sindicais da categoria, seu salário foi subindo. Hoje a empresa a considera uma funcionária “cara”. A relação custo/benefício, na opinião do Diretor Administrativo, já se tornou desfavorável para a empresa. Por outro lado, se a funcionária for demitida a empresa deverá pagar um montante de encargos altos e sempre haveria o risco da funcionária entrar na justiça reivindicando horas extras não pagas. O ideal portanto é que Joana se demita espontaneamente. Para que isso aconteça, o Diretor Administrativo resolve dar uma mão… Freqüentemente ela é chamada na sala dele que a “xinga” dizendo que é incompetente e “burra”. Várias vezes a gritaria chama a atenção dos colegas. Até no corredor Joana é abordada e humilhada na frente de todo o mundo. A carga de trabalho é dobrada e a cobrança se torna cada vez mais insuportável. Várias vezes os colegas encontram Joana chorando no banheiro.
A situação piora quando Joana fica novamente grávida. O Diretor Administrativo a chama e diz que tem que optar entre ser uma profissional e continuar tendo filhos. Fica no ar uma ameaça velada de demissão após a gravidez.
A situação descrita é imaginária, mas não está muito longe da realidade vivida hoje por um número crescente de pessoas inseridas em um mercado de trabalho cada vez mais competitivo e desumano. Por causa disso se configurou uma situação que passou a ser considerada pela justiça do trabalho de vários países como uma nova figura jurídica que acabou ganhando terreno ao lado do assédio sexual. Trata-se do “assédio moral”. Uma situação que não é fácil de ser comprovada diante da justiça, mas que tem um caráter de violência tão alto como o próprio assédio sexual.
As conseqüências para a saúde psíquica de quem convive com um ambiente de trabalho onde se pratica o assédio moral são graves. Trata-se de fato de situações que são extremamente invasivas para o psiquismo. O caráter moral da pessoa e suas capacidades pessoas e profissionais são questionados por alguém que exerce sobre ela algum tipo de autoridade. A pessoa se sente agredida e esvaziada, caindo geralmente em um estado depressivo muito intenso. A situação de estresse pode levar a crises que vão do pânico a sumarizações violentas (formas alérgicas, gastrite, bronquite, asma, problemas cardíacos e de pressão, diabete, impotência sexual, etc.).
Trata-se portanto de uma situação grave com a qual não se pode compactuar em termos éticos. Pessoas que praticam esse tipo de violência devem ser denunciadas e demitidas de seus cargos. Aliás, diga-se de passagem, trata-se de péssimos profissionais, pois essa forma de lidar com os subalternos é a pior possível em termos de administração dos recursos humanos. Exatamente o contrário do que se recomenda para criar na empresa um clima saudável e produtivo. Hoje se fala muito em gerenciamento das relações com o cliente (CRM). Se o “cliente interno” (funcionário) for desprezado, de nada vale cuidar do cliente externo, pois todas as relações ficam comprometidas, desde as relações com os fornecedores até aquelas com os próprios clientes. Sem garantir um clima adequado, a produtividade cai e todas as instâncias da empresa ficam comprometidas.