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O aborto psicológico

O aborto psicológico
Várias vezes o senhor mencionou em seus artigos as dificuldades psicológicas que enfrenta quem aborta, mas o que dizer das crianças que nascem sem condições de serem criadas tanto materialmente como psicologicamente?

O aborto psicológico

A pergunta do nosso leitor é de extrema importância. Geralmente, quando se fala em aborto, esquecemos que a vida do bebê depende não apenas da não interrupção da gravidez, mas também dos cuidados que ele recebe desde os primeiros momentos de sua vida.

O nascimento de um ser humano, não é um acontecimento qualquer. Na escala dos seres, o bebê que nasce é um ser altamente sofisticado. Sua fragilidade física pode nos enganar. Aquele pequeno embrulho choroso já contém em si todas as potencialidades de um ser humano completo.

O que vai acontecer com ele desde o primeiro dia de vida é algo absolutamente incrível. A complexidade das construções psíquicas que se dão desde os primeiros dias é inimaginável. No entanto, o êxito dessa maravilhosa construção depende não apenas do mero cuidado físico (limpar, dar de mamar, etc.). Para que tudo corra bem e o bebê possa de fato nascer do ponto de vista psíquico, são necessárias interações com o ambiente externo muito mais complexas, que envolvem um clima emocional saudável e bem-disposto.

Tudo isso significa que o bebê deve ser de alguma forma “sonhado” pela mãe, seu nascimento deve ocorrer no psiquismo da mãe, antes mesmo dele ser dado à luz. O período da gravidez é uma preparação nesse sentido, mas é sobretudo com o nascimento que o bebê sente se ele é “esperado” e se há um lugar para ele no mundo.

Existe uma forma de aborto que é mais comum do que se pensa e que é praticada sem grandes constrangimentos do ponto de vista moral. Trata-se do aborto “psicológico”, cujas conseqüências não são menos graves, pois representam uma séria ameaça à vida psíquica do bebê.

Sabemos que até no mundo animal os cuidados maternos não incluem apenas a alimentação, mas também uma série de cuidados de outro tipo, que envolvem manifestações de afeto, contato físico, brincadeiras, proteção, aconchego, etc. O “filhote” humano também precisa de tudo isso.

De forma bastante hipócrita a sociedade tem se preocupado em defender a vida física do bebê que vai nascer. Em alguns países o aborto é considerado um crime contra a vida e é punido pela lei. Outros países o permitem em certas condições e em outros é permitido sem restrições.

Mas quantos se preocupam com outros tipos de aborto que acontecem depois do nascimento? O problema é que uma mãe não é mãe apenas pelo fato de ter dado à luz, embora ela seja dotada de um instinto natural materno nem sempre tem condições de recorrer a ele. Para o ser humano, a maternidade deve ser um ato consciente, desejado e assumido com responsabilidade.

Infelizmente nem toda mãe pode fazer isso e, neste caso, ela não conseguirá viver sua maternidade de forma adequada. Isto trará invariavelmente conseqüências para o seu bebê.

As mães que “dão” o filho são freqüentemente olhadas com desprezo e condenadas, mas provavelmente, estão agindo com mais responsabilidade se comparadas com as mães que “assumem” o seu bebê como um “fardo” e procuram se adaptar à sua existência de forma resignada.

Por outro lado, não quero passar a impressão que a maternidade deva ser vivida sem passar por sentimentos ambíguos em relação ao bebê. De certa forma é perfeitamente normal que uma mãe se sinta em algum momento oprimida pelo peso da maternidade e chegue até a ter uma espécie de “ódio” pelo bebê.

Dependendo da intensidade desses sentimentos aversivos da mãe e da sua duração, o bebê pode lidar com isso, O problema é quando esses sentimentos se instalam na mãe de forma permanente e definitiva ou, pior ainda, quando o bebê é obrigado a lidar com uma ambigüidade “enlouquecedora”, pois as declarações de amor e gestos de afeto da mãe são seguidos de ataques, agressões e violência.

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