Tenho muito medo de envelhecer, mas, ao mesmo tempo, quero viver muito anos.
Apesar dos inegáveis avanços da medicina, a velhice ainda se apresenta para a maioria das pessoas como uma etapa da vida desafiadora e às vezes assustadora e árdua. Raramente é vista como um desenvolvimento natural da trajetória humana.
As formas de reagir podem ser as mais variadas. Alguns negam o processo de envelhecimento “disfarçando” as marcas da velhice ou mantendo modos de vestir e de viver “juvenis”. Outros preferem “prevenir” o envelhecimento, com cuidados estéticos, submetendo o corpo a controles médicos, treinamentos físicos e a um controle da alimentação rigoroso. Frequentemente, porém, por trás disso há uma dificuldade de aceitar a “realidade” do envelhecer e de integrá-la ao próprio dia-a-dia, aceitando suas consequências e, ao mesmo tempo, apreciando seus aspectos positivos.
Pessoalmente sempre gostei de uma frase atribuída ao psicanalista inglês Winnicott, que resume a sua postura diante da velhice e da morte: “Quando eu morrer, quero estar vivo”. Há uma grande sabedoria nessas palavras, que nos permitem captar o essencial do desafio de envelhecer de forma saudável.
As atitudes acima descritas perdem o seu sentido se, psiquicamente, deixamos de “estar vivos”, pois elas arriscam se tornar apenas tentativas de fuga. Creio que cada um tem sua maneira particular de encarar o processo de envelhecimento e suas consequências físicas, mas de nada adiantam dietas, horas de academia, modo de vestir ou de viver “juvenil”, se a pessoa não se sentir realmente “viva”, em condições de integrar todas essas práticas e posturas a algo mais profundo, que emana da psique: a sensação de estar vivo e de ser ele mesmo.
A apropriação de si próprios (do Self) é o grande desafio que nos acompanha desde o nascimento até à morte. O Self é uma experiência que organiza o nosso psiquismo lhe transmitindo a sensação de existir, de ser vivo, de ser real. Isto é o que importa. Ser velho não somente não impede, como pode até favorecer essa experiência.