Crisipo

Crisipo
O sábio

1. A figura do sábio

E o sábio, servindo-se nas coisas por ele feitas da experiência da vida, faz tudo bem, de forma prudente, moderada e conforme as outras virtudes; o idiota, ao contrário, de modo mau. E o sábio é grande, firme, alto, forte. Grande enquanto pode conseguir as coisas que escolhe e se propõe; firme enquanto cresceu em todas as partes; alto enquanto participa da altura que cabe a um homem egrégio e sábio; forte enquanto é provido da força que lhe toca, tornando-se invicto e invencível. Por isso também não é forçado por alguém nem constrange ninguém, não é impedido nem impede, não sofre por alguém violência nem ele próprio com ela ameaça alguém, não é senhor de ninguém nem tem senhores, não faz mal a ninguém nem ele próprio é disso alvo, não cai nos males nem neles faz alguém cair, não é enganado nem engana outros, não mente, nem se esconde de nada, nem lhe foge qualquer coisa, nem absolutamente admite a mentira; é feliz em máximo grau, afortunado, feliz, rico, piedoso, caro a deus, digno de honra, e além disso régio, condutor hábil, homem político, hábil administrador, homem de negócios. Os idiotas têm tudo aquilo que é contrário a estas coisas.

O sábio faz bem toda coisa; e, com efeito, serve-se continuamente, sabiamente, fortemente, convenientemente e ordenadamente das experiências da vida. O idiota, ao contrário, por ser inexperiente no reto julgamento e agindo segundo a disposição que tem, faz mal qualquer coisa, pois é muito instável e sujeito a arrependimento em todas as coisas. O arrependimento é uma dor pelas coisas feitas como se fossem malfeitas, uma funesta paixão da alma e causa de dissensões. Com efeito, aquele que se arrepende enquanto sofre por aquilo que aconteceu, ira-se contra si mesmo como se fosse a causa disso.

Crísipo, fr. 567.

2. O sábio é imune à dor, que é uma perturbação da alma

Quem é forte é, ao mesmo tempo, confiante, e quem é confiante certamente não teme; com efeito, o ser confiante não está de acordo com o temer. Mas quem é tomado pela dor é, ao mesmo tempo, tomado pelo temor; com efeito, nós tememos como dominantes e inevitáveis as coisas por cuja presença estamos tomados pelo temor. A dor, portanto, está em contraste com a fortaleza. É verossímil, portanto, que quem está sujeito à dor, está ao mesmo tempo sujeito a temor, ao aviltamento e ao abatimento do ânimo. Acontece que aquele mesmo ao qual acontecem tais coisas, torne-se delas escravo e, na ocasião, se confesse vencido. Quem sofre isso deve também sofrer a timidez e a indolência. Estas coisas, porém, não acontecem ao homem forte; portanto, nem a dor. Mas ninguém é sapiente se não for forte: ao sábio, portanto, não caberá a dor.

Além disso, quem é forte é, necessariamente, magnânimo; (quem é magnânimo) é invicto; quem é invicto despreza as coisas terrenas e estima que estejam a ele sujeitas; mas ninguém pode desprezar aquelas coisas pelas quais depois pode ser tomado pela dor; do que se deduz que o homem forte jamais é atingido pela dor; mas todos os sapientes são fortes; a dor, portanto, jamais atinge o sapiente.

E como um olho perturbado não está em boa condição para realizar sua tarefa, e as partes restantes e todo o corpo, quando de afastam de seu estado natural, faltam ao seu deve e à sua tarefa, também a alma perturbada não está em grau de desenvolver sua tarefa. A tarefa da alma é servir-se bem da razão, e a alma do sapiente está sempre em condição de servir-se otimamente da razão; ela, portanto, jamais é perturbada. Mas a dor é uma perturbação da alma; o sábio, portanto, estará sempre dela privado.

Crísipo, fr. 570.

3. O sábio vive uma vida feliz

Se a alma for sábia e a mente tiver bom senso e estiverem aptas a realizar retamente as próprias coisas e as dos outros, é necessário que vivam felizes, sendo obedientes às leis, tendo destino feliz e sendo caros aos deuses. Com efeito, não é verossímil que os prudentes não sejam experientes sobre as ações humanas, nem que os que conhecem as coisas humanas não conheçam as divinas, nem que os que são experientes sobre coisas divinas não sejam piedosos, nem que os que são piedosos não sejam caros ao deus; nem serão diferentes os que forem caros ao deus e os felizes.

Nem os homens que são imprudentes são diferentes daqueles que ignoram aquilo que lhes cabe; nem aqueles que não conhecem suas coisas conhecem as coisas divinas; nem aqueles que têm idéias idiotas sobre as coisas divinas são não ímpios. Nem é possível que sejam caros ao deus os ímpios, nem que os não caros al deus não sejam infelizes.

4. O sábio pode ser feliz também nas desventuras

Aprovo os sentimentos fortes e generosos dos Estóicos, que dizem que as coisas externas não são impedimento para a felicidade, mas que o sábio é feliz, mesmo que o touro de Falárides o esteja queimando.

Os idiotas não participam de nenhum bem, pois o bem é uma virtude ou aquilo que participa de virtudes; as coisas que provêm dos bens, que são aquelas das quais se tem necessidade, sendo vantajosas, cabem apenas aos sábios, assim como as coisas que provêm dos males, que são aquelas das quais não se tem necessidade, cabem apenas aos viciosos. São, com efeito, coisas nocivas. E por isso todos os sábios são estranhos ao dano em ambos os sentidos; não são capazes de causar dano, nem de sofrer dano, enquanto os idiotas estão em situação contrária.

Crísipo, fr. 586.

5. O sábio possui todos os bens

A quem é sábio cabe absolutamente todo bem, aos idiotas todo mal. Não é preciso crer que eles assim digam que.se existem bens.eles cabem aos bons, e igualmente também para os males. Digam, sim, que uns têm tantos bens que nada lhes falta porque têm vida perfeita e feliz, os outros tantos males porque têm vida imperfeita e infeliz.

(Enumerando os paradoxos sobre o sapiente) diremos justamente que tudo pertence a ele, que apenas sabe fazer uso de tudo, justamente será também chamado belo (os delineamentos da alma são, com efeito, mais belos que os do corpo), justamente apenas o livro e não submisso, justamente invicto, porque mesmo que se acorrente seu corpo, todavia não se poderá acorrentar sua alma.

Não acreditemos, porém, que agora emparelhemos a beleza física à graça de que falamos, que consiste na simetria das partes e em um aspecto decoroso, como se encontra também nas meretrizes, que todavia jamais direi que são belas, mas, ao contrário, torpes; este atributo é, com efeito, conveniente a elas, uma vez que assim como no espelho aparecem as características do corpo, também no rosto e no semblante as da alma. […]

Crísipo, fr. 586-589, 591-593 e 598

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