A Histeria no Teatro das Corporações

(C)  Maysa Del Panta Castello Branco

Podemos dizer que a histeria é “o teatro da subjetividade”. Pode ser pensada como fundamento da construção subjetiva, tendo seu eixo na ênfase da relação com o Outro. Este por sua vez funciona como “morada do sujeito da mesma maneira que para o ator, a plateia, o espectador é a morada do artista”. (Quinet, A. 2005). Como sugere Quinet, o que o ator faz senão colocar em cena um discurso que também não é o seu, mas do Outro, o autor. Entretanto, cada artista apropria-se desse discurso ao seu modo e será a singularidade de cada apropriação que indicará a emergência de uma subjetividade.

“No teatro da vida convivemos com os outros e ao mesmo tempo estamos inevitavelmente sós. A histeria, em seu teatro dá visibilidade a essa condição radical de nossa humanidade. Ela sublinha o aspecto tragicômico, amplifica, carrega nas tintas da dramaticidade de nossa experiência humana. Clama por refletores em sua direção. Exibe a dor e a delícia do funesto destino de sermos humanos.” (Maurano, D./2010)

“A gente gosta das coisas que as pessoas que a gente gosta, gostam.” Assim, o desejo do sujeito é determinado pelo desejo do outro, ou dos outros. O Outro se torna aquele que diz o que o sujeito sente, o que o sujeito pensa, o que o sujeito pode ser, o Outro é que diz a verdade do desejo do sujeito. A verdade sobre as coisas para o histérico é dita pelo Outro. O sujeito se caracteriza, se define, se desenha a partir da fala do Outro. Este Outro-Autor é aquele que criou o texto do personagem que o histérico-ator vai encenar. Neste contexto podemos perceber que o problema crucial do histérico é a alienação de si, pois é um ator que se identifica tanto com o personagem que esquece que é apenas um ator e se transforma no personagem.

Esse tom sacrificial de entrega ao Outro parece focalizar o fundamento da constituição subjetiva, para lembrar que a inconsistência disso que somos como sujeito advém do fato de nossa própria mensagem a recebermos do Outro. Afinal não inventamos a língua, mas sim a apreendemos de fora e com ela tecemos o que somos. Essa alteridade é, portanto, o que vigora no centro de nós mesmos. E ninguém melhor do que as histéricas para colocar isso em evidencia, seja fazendo-se outra, teatralizando, expondo o caráter de montagem no qual se sustenta o “si mesmo”, seja saindo de cena, desfalecendo, numa manifestação radical de dessubjetivação, suspensão absoluta do “si mesmo”.” (Maurano, D./2010)

Neste pequeno ensaio pretendo descrever a posição histérica que sustenta o ambiente empresarial na atualidade. A neurose obsessiva, ou até mesmo a perversão também impregnam o ambiente corporativo, porém escolhi a histeria por achar que ela ocupa hoje em dia um espaço maior e se expressa através de formas contemporâneas de sofrimento. Portanto, considero que a histeria permeia o comportamento das pessoas inseridas no mundo corporativo e ela se manifesta através de posicionamentos, condutas, posturas, maneiras e sintomas típicos corriqueiros. Distingo agora, as pessoas cuja estrutura dominante é a histérica daquelas que não são, pois afinal de contas encontramos no “teatro corporativo” pessoas de todos os tipos de estrutura psíquica. Aquelas cuja estrutura particular dominante não é a histérica, atuam no mundo corporativo interpretando o personagem histérico que este mundo impõe, mas colorem este personagem com as cores da sua estrutura dominante e da sua singularidade. Interpretam o personagem histérico, mas vão para o camarim sem ele. No entanto as pessoas que possuem uma estrutura histérica dominante vão para o bastidor, para o camarim, para casa e para a cama ainda com o personagem porque na verdade se transformaram nele. Ele as define. Torna-se sua identidade.

As palavras acima podem apontar para uma análise tipológica de caráter. Será que há lugar na psicanálise para estudos tipológicos baseados na descrição de comportamentos, ou até mesmo tipos de personalidade? Já ouvi colegas dizerem que o uso de tipologias assassina a singularidade. Quem é o assassino, o mapa tipológico em si mesmo ou o modo como se usa o mapa? Discordo desse reducionismo amedrontado. Mapas tipológicos de descrição de personalidade podem ser muito úteis, exatamente porque ao descreverem a base comum fazem destacar o que é incomum, único, singular, ou até mesmo excêntrico. Para mim tipologias realçam a singularidade. É só querer ver e saber usar, lembrando a célebre frase: “o mapa não é o território”. Tipos de personalidade podem ser vistos como os grandes e marcantes personagens. Estes ao serem interpretados por diferentes atores são coloridos pela assinatura do inconsciente de cada ator.

Ao receber os histéricos corporativos na minha clínica percebo o mesmo modo de ser, o mesmo discurso, a mesma visão de mundo. Quando os encontro no dia a dia, sempre tenho a impressão de que estou falando com clones, com autômatos que saíram da mesma forma empresarial. E nesta procissão da mesmice, neste maneirismo generalizado, escutamos a mesma demanda: “Defina-me”. E depois “Posso ser o seu objeto de desejo?”. E em seguida “Me aplaude”.

Este personagem histérico corporativo, alvo dos head-hunters e cobiçados pela competitiva pirâmide empresarial domina o cenário de trabalho paulistano. Homens e mulheres que nunca tem tempo para nada, nem para uma autoanálise, colocam no Outro e nos detentores do êxito pessoal, a condição de dizer o que eles devem gostar, desejar, pensar. Sujeitos-fora-de-si e fora-do-sentir, que apesar de bem-sucedidos começam a apresentar sintomas e quando estes se agravam procuram uma poltrona ou um divã para perguntarem-se: Afinal qual é o meu eu real? Será que sou uma fraude? O que eu desejo verdadeiramente? Qual é o sentido disso tudo? Por que eu faço o que eu faço? Por que reajo desta maneira e não consigo mudar? Por que este vazio? Por que nada me satisfaz? Estes jovens ambiciosos e empreendedores, que colocam no discurso do Outro-Corporativo, a verdade sobre si mesmos, procuram agora o refúgio do espaço terapêutico para reaverem contato com seu desejo e consigo mesmos. De acordo com Freud, o desejo se sustenta na tensão da falta que nos constitui. “Brincamos de esconde-esconde com a mítica satisfação plena; é por esse motivo que realizar um desejo pode ser tão difícil quanto suportar sua frustração. A insatisfação, por isso, está permanentemente presente em nossas vidas, mas no caso específico da histeria essa dimensão é amplificada.” (Maurano, D./2010)

Vou apresentar agora esse personagem histérico contemporâneo me baseando em um paciente do sexo masculino, quebrando de vez o estigma, errôneo em qualquer época, de relacionar a histeria somente à mulher. Robson, um nome agora brasileiro, porém americano e masculino. Os mesmos três atributos que se aplicam ao mercado de trabalho empresarial paulistano, onde grandes empreendedores se identificam com a imagem popular na América de juventude, energia e vida competitiva: “I’m the best, fuck the rest.”

A histeria corporativa está centrada na capacidade de desempenho e exige constante admiração, aprovação e aplauso. A vaidade decorrente eleva as realizações pessoais a um lugar de exuberante importância psicológica e existencial. O histérico corporativo quer ser amado pela sua performance. Robson quer ser necessário, valorizado e querido na vida das pessoas por causa da sua imagem profissional, de seus ganhos financeiros, do seu status social. Status, títulos e prestígio formam a tríade mágica. Quer ser admirado e aplaudido pela sua eficiência e absoluta dedicação ao trabalho, à empresa, às metas, aos resultados. Ele é totalmente identificado com seus empreendimentos e realizações, com uma atuação somente de sucesso e em ser o melhor.  Acredita que o amor e o valor próprio vêm através daquilo que produz e conquista, e não pelo que é. Atenção no fazer, através do qual ele acredita realizaria sua fantasia de ser. Ser o quê? Sempre o primeiro, o melhor, o top-performer. Pode passar pela vida ignorando ter perdido uma conexão vital com sua própria vida interior. Vive em um estado de autoengano. Uma ilusão premiada com promoções. A histeria dos vencedores. Que espécie de vazio habita o pódio dos vencedores?

O conhecido aforismo que Lacan tomou de Hegel “o desejo do homem é o desejo do Outro” aparece de modo amplificado na histeria. O histérico se deixa fisgar pelo que se lhe apresenta como desejo do Outro, mas a meta principal dos mais ambiciosos é se fazer desejo do desejo do Outro. Histéricos como Robson adotam a imagem arquetípica de qualquer grupo, a imagem-protótipo, ou norma cultural vigente, incorporando as características ideais. São camaleões que se transformam nos executores e empreendedores valorizados por qualquer grupo do qual se tornam membros. Tornam-se o protótipo daquilo que fazem. Na maioria das vezes encarnam o protótipo da profissão. Ênfase na embalagem e não no conteúdo. O mestre das aparências. Layout high profile. Um estilo pessoal que impressiona e uma fachada que convence. A imagem pública de sucesso é crucial, pois só os vencedores são dignos de amor. Fracassos são reemoldurados como sucessos parciais. Atenção seletiva para realizações positivas. É importante manter vivos projetos e expectativas, é primordial evitar o fracasso e maximizar o êxito. Repudia a célebre frase: “O importante não é ganhar, é competir”. “Só pode ser um cara que perdeu para inventar uma frase idiota dessas!” (Robson)

Eu sou o que eu faço”. Robson exibe uma profunda identificação com os símbolos de status e aparência. Dinheiro, imagem afluente, fama e doses maciças de ambição. Trabalhos e renda são altamente considerados. Seu valor depende daquilo que faz aos olhos dos outros. A busca da identidade se dá através de um papel ou tarefa. O trabalho torna-se, então a área preferida de atividade. Para histéricos corporativos o trabalho é o Sol, o centro no qual tudo orbita. Seus dias são ocupados por uma intensa e frenética atividade que provoca a suspensão do sentir e das emoções através do constante fazer. A atividade é também um antidepressivo natural. Robson permanece tão ocupado que não deixa a vida deprimi-lo. “Eu não penso muito não. Simplesmente faço o que tem que ser feito.” O ideal é fazer mais em menos tempo. Enquanto a técnica visa fazer mais e melhor, com menor dispêndio de energia, aqui o enfoque vai para a quantidade. “Pega o atalho; detalhes depois!” Convence, vende e depois conserta. Afinal tempo é dinheiro e isso remete a bônus robustos. Além disso, só cabe uma pessoa no lugar mais alto do pódio. Portanto, nesta visão de mundo olímpica, estamos sempre em competição com algo ou alguém. Afobado, pilhado, chega até a competir consigo mesmo. Tendo a competição como seu estilo de vida predileto desenvolve uma compulsão pelo pódio e uma pressa desenfreada como se pudesse ter um comando absoluto sobre o tempo e com isso dominar o acaso. Todo o viciado no hábito da pressa acaba se transformando em um adicto do futuro. Não o futuro como modo de inspiração e construção do presente, mas o futuro como fuga do presente. E as tecnologias escravizantes do momento estão aí para ajudar nessa fuga adictiva. “O que vou postar? Quantos curtiram? Qual dos meus três celulares tocou?” Se não estiver sempre conectado tem a sensação de que está perdendo algo importante, que está sendo esquecido, “deletado”. Porém, “conexões fáceis e imediatas são redefinidas como íntimas…. intimidade virtual transforma-se logo em solidão virtual.” (Turkle, S./2010 tradução livre) Uma solidão tamponada pela busca de visibilidade. “A visibilidade prova meu valor.” Muitos “selfies” para pouquíssimo contato com o self.

Robson está sempre de olho na fama. O anonimato traz ansiedade. Na patética cultura de celebridades tende-se a confundir “o melhor” com “o mais conhecido”. Performático. Sedutor. Político. Marqueteiro. Consumista. Fashionista. “Image tailor”. Metrossexual. Adepto do comércio de si. Personalidade mercantil. Erich Fromm criou a expressão “personal marketability” para descrever esse tipo de posicionamento perante a vida, onde pessoas se vendem como um produto. Também corresponde à rapidez e à facilidade que um bem, uma pessoa ou um produto pode ser convertido em moeda corrente. Liquidez pessoal. “Diga-me qual é o seu preço?” “Quem não é comprável?” diria Robson. Parece que o histérico corporativo é a encarnação perfeita do modelo do hipercapitalismo, pois ele se torna o protótipo do sistema econômico no qual vive. “A histeria, acompanhando o espírito de sua época, funciona como um paradigma da condição de seu tempo, no qual influências contemporâneas (…) abrem o desfile das manifestações histéricas, nas suas mais variadas versões.” (Maurano, D. 2010)

Exibe uma autopromoção agressiva e sedutora. Marketing pessoal: orna-se de brilho fálico, insinuando-se como meio de acesso a um gozo a mais. O marketing bem sabe que o objeto vale não pela satisfação que possa propiciar, mas pela que pode prometer. “Fake it until you make it.” (finja que você sabe fazer até conseguir fazer) é o lema. “I’m my own self-fulfilling prophecy.” “Instant experts.” A fraude é mascarada com as promessas de uma auto profecia de sucesso.

Camaleão social: aquele que assume os maneirismos de um modelo bem-sucedido, possuindo um ajustamento intuitivo e constante da imagem e do discurso. O discurso histérico está sempre se ajustando porque a definição que o sujeito ouve nunca complementa, nunca satisfaz. Assume os sentimentos adequados à imagem pública e abandona os autênticos em favor de um papel. Valoriza mais a imagem do que as relações emocionais ou um envolvimento profundo com a vida de outras pessoas. Os relacionamentos adquirem um tom de superficialidade. As emoções são vestidas. Pessoas como ele vestem as emoções da mesma forma que vestem as roupas, substituindo as emoções reais por aquelas que as pessoas bem-sucedidas deveriam expor. A imagem assumida é capaz de substituir necessidades e desejos autênticos, os quais, por sua vez, são sentidos como fenômenos intrusivos. Como incorpora uma imagem que ajuda a promover visibilidade profissional, é complicado e doloroso reconhecer que têm necessidades e desejos que vão contra uma imagem pública muito visível que maximiza a eficácia de um papel. O desarranjo emocional é para perdedores, para os que não têm nada para fazer ou não conseguem acompanhar o passo.

Robson está acostumado a fazer várias coisas ao mesmo tempo e mantem aberta o maior número possível de frentes. Adepto da atividade polifásica, faz vários projetos ao mesmo tempo. Gosta de ser solo-performer e se esquece de reconhecer a contribuição dos outros usando as pessoas como peças de engrenagem ou degraus para atingir a meta. Muitos percebem os atores desse teatro histérico como seres pressionados, em luta, como se tivessem se vendido em troca de ganhos pessoais. Durante o processo de desenvolvimento de um projeto apresenta dificuldade em ler os sinais de perigo e de mudar o curso. Quando intui o fracasso, abandona a competição, mas não perde. Põe a culpa em alguém. Desacredita e desqualifica fontes de crítica. A crítica ao produto é encarada como agressão pessoal. Não percebe que sua preocupação com a ação impede o surgimento daquele tipo de criatividade que só pode se desenvolver a partir de longos períodos de tempo dedicados à vida subjetiva.

“Workaholic”. Como adicto do trabalho é incapaz de parar, relaxar e de sentir. O período de descanso é preenchido com atividades e programações. Tempo livre sem a garantia de saber o que fará em seguida é assustador. Adiamento da felicidade emocional: “serei feliz depois da próxima promoção”. A vida emocional, pessoal e em família é sacrificada. A constante atividade, o ritmo e a pressa previnem os sentimentos e os questionamentos pessoais de vir à tona. Quando deprime, Robson vez por outra acusa sentimentos de ser uma fraude, de fazer encenação. Encara a questão das necessidades emocionais com desdém. “Eu não me deixo atolar em emoções.” Paralisa diante da pergunta: “mas qual é o seu desejo verdadeiro? No fundo no fundo, o que você realmente quer?” Responde com certa indignação: “Ora, eu desejo o que todos desejam”. Outro slogan: “Sucesso é a arte de escolher o melhor. Quem não quer o melhor?” Ao que eu indago: “Quem define o melhor?”

Exaustão. A autopromoção e o comércio de si é tão exaustivo quanto a execução do próprio trabalho. Colapso. Caso seja forcado a reduzir ou a parar, sente-se incapaz de lidar com a erupção dos sentimentos e das emoções suspendidas. Sintomas físicos, cardíacos e depressivos se fazem presente: taquicardia, distúrbios gastrointestinais, ideias hipocondríacas, crises ansiosas com alterações cardíacas, confusão mental, irritabilidade, fobia ao contato, despersonalização. Interessante notar o aumento nos homens dos transtornos alimentares como bulimia e dos transtornos referentes à imagem física (dismorfofobia).

Na clínica, este estilo de ser vai encenar a mesma dinâmica relacional. Não poderia ser diferente. Condiciona o desejo a partir das possibilidades de significação do desejo do analista ao por neste, quem irá revelar a “verdade sobre  mim mesmo”. Procura seduzir e conquistar de todas as maneiras para representar um bom papel. Coloca no analista a condição de definir o que ele deve gostar, desejar, pensar, da mesma forma que um ator espera o texto para encarnar o personagem e as marcações de cena do diretor da peça. Por ser um expert no ilusionismo sedutor e confiando no seu poder de convencimento, exibe um carisma e cria uma empatia irresistível. Seu teatro convoca o analista o tempo todo para que este o defina, explique, sugestione, dê as dicas de como ele deve agir e resolver o mais rápido que puder sua falta de sentido e seu tédio existencial. Se o analista se deixa seduzir, a análise nunca ocorrerá.

Histéricos esperam do analista uma verdade contundente. Tendem a não elaborar por si, e também a uma literalidade do que é dito. Custam a desenvolver um processo de elaboração. A demanda da terapia se torna mais uma atividade entre tantas com a meta de se conseguir resultados práticos, objetivos, com garantias de sucesso. Querem ser o paciente perfeito, o paciente predileto, o mais afinado, de revelar sonhos freudianos e de impressionar com jargões que procurou decorar no livro de conceitos básicos de psicanálise. A análise se torna um trabalho para conquistar e dominar, assim poderá se transformar no protótipo do analisando bem-sucedido. Como sugere Maria Rita Kehl o analista deve desfazer a fantasia de que existe entre ele e o paciente um pressuposto sobre a evidência de um valor que ele/a (histérico/a) espera ver reconhecido … (Kehl, 2004).

Geralmente apresentam confusão a respeito de sentimentos: “Possuo o sentimento certo?” É comum também confundirem uma ideia sobre uma emoção com a coisa em si. Possuem o hábito de se separar dos sentimentos quando falam sobre questões pessoais. Acreditam que essas questões foram resolvidas assim que se deu nome a elas e se conversou sobre elas, sem ter de sentir emoções ou afetos. O relato desse tipo de analisando acusa um discurso que gera identidade através do sintoma, que justifica todas as ações e racionalizações através dessa identificação. Desejam resultados rápidos, de querer se sentir melhor logo, de encontrar algo que possam “trabalhar (!) dentro de mim para resolver”. Necessidade de provas de sucesso. Por fim, desejam abandonar a análise antes que possa ocorrer uma verdadeira mudança.

Através deste trabalho procurei descrever como a histeria norteia o comportamento das pessoas no mundo corporativo da atualidade, e com isso situá-la no século XXI, revelando outras formas inéditas de sua expressão e ao mesmo tempo expondo seu caráter atemporal. Escrever também é uma maneira de exercer a psicanálise e perpetuá-la no tempo. Esta como vitrine da sua época assume através de seus escritos e da sua clínica a função de palco primordial da subjetividade, de investigação da realidade humana, de lugar de questionamento da cultura, de espaço de criação de novas metapsicologias e atualização das formas conhecidas de sofrimento, bem como de percepção do que é inédito.

Para terminar uma breve nota resumindo a posição do analista. Este não responde à demanda de gozo, de definição histérica do outro, pois o que interessa é fazer o outro falar – ser o dono do discurso. Enfoca apenas a verdade do outro, extrai a verdade do outro. A escuta é viva aliada às devoluções que ajudem a pensar, que ajude o outro a elaborar. O analista procura ficar no lugar do objeto faltante, causa e motor do discurso do outro. Na verdade o lugar do analista é um lugar que não se deixa seduzir e se recusa a comprar o produto, que não aplaude, que não está na plateia. Seguindo a analogia que propus, o analista convida este frenético ator a ir com ele para o lugar seguro do camarim e lá despir-se do personagem.

Bibliografia

Quinet, Antonio, 2005 – As lições de Charcot – Jorge Zahar.

Maurano, Denise, 2010 – Histeria, o princípio de tudo – Civilização Brasileira.

Turkle, Sherry, 2010 – Alone Together, why we expect more from technology and less from each other – Basic Books

SHERRY TURKLE: CONNECTED, BUT ALONE? – TED TALK

Kehl, Maria Rita, 2004 – Ressentimento – Casa do Psicólogo.

Fontes complementares

Apostila do meu curso: “Os Nove Tipos Humanos do Eneagrama” sobre o Tipo Três.

Contato: racily.eneagrama@yahoo.com.br

Don Riso and Russ Hudson books on Type Three – The Achiever:

Understanding the Enneagram, 1990 – Houghton Mifflin Company

Personality Types, 1996, revised edition – Houghton Mifflin Company

Helen Palmer books on Type Three – The Achiever:

The Enneagram, 1988 – Harper Collins

The Enneagram in Love and Work, 1995 – Harper Collins

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