A descoberta da própria vocação

Tenho muitas dúvidas em relação a carreira profissional que devo seguir. Apesar de eu ser muito jovem, tenho 15 anos, prestarei vestibular ano que vem, e estou muito “perdida”. Penso muito em ser psicóloga, porém tenho ainda muitas dúvidas. Como descobrir minha vocação? Kananda Amancio, São Paulo (SP)

Ao contrário do que pode parecer, descobrir a própria vocação não é fácil. O sistema de ensino brasileiro obriga o jovem a orientar sua escolha profissional muito cedo. Como a nossa leitora, os jovens, em sua grande maioria, se sentem completamente despreparados para “escolher” o que irão fazer “pelo resto de suas vidas”.

 A pressão que o ambiente exerce nesse sentido é grande, pois parece existir um “caminho certo” que cada jovem deve adivinhar para acertar na loteria da vida. A isso devemos acrescentar um agravante: desde a sua infância os jovens são cada vez menos acostumados a “sonhar seus próprios sonhos”. A realidade já está pronta para ser “consumida” nas prateleiras dos supermercados da vida. Desde as festinhas de aniversário, à roupa que vão vestir, as músicas que vão curtir, a tecnologia que vão ter que dominar, a escola que vão frequentar, tudo, ou quase tudo, já vem embalado, pronto para o consumo.

Temos também um “kit” de valores: riqueza, poder, status que são considerados essenciais para a vida. Por isso tudo, o sujeito é capturado e encaminhado para um tipo de existência absolutamente achatada, dominada por um universo material já pronto e elaborado para ser “comprado”, um universo sem sonhos, mas repleto de objetos de consumo, cuja “utilidade” é reforçada no dia-a-dia pelos apelos midiáticos. No livro O homem sem gravidade dois psiquiatras e psicanalistas franceses (Lebrun e Melman) descrevem cuidadosamente esta situação. O mundo contemporâneo é marcado pela exigência radical da transparência (tudo é mostrado, “postado e publicado”), pela ausência da noção de limite (tudo é possível), pela abolição da autoridade (a figura do pai) e pela crise do político (a noção do bem comum e o compromisso com um projeto social).

Ao ter que pensar o seu futuro profissional, os jovens são chamados a escolher um produto na prateleira. O jovem está perdido no labirinto de placas indicadoras que apontam para um destino profissional que não parece ter algo a ver com o viajante.

Mergulhado em um universo de homens sem gravidade, o jovem perdeu a sua característica essencial de sujeito. Sem sujeito não há discurso possível, a não ser a repetição do discurso impessoal. Talvez isso explique por que quase 60% dos que estão empregados detestam seu trabalho.

Na condição de sujeito, o jovem se depara necessariamente com a sua incapacidade de abranger o todo e com a aceitação do risco do não saber. Podemos pensar e escolher algo somente se aceitarmos esse não saber, pois não existe um saber absoluto, que sabe tudo e que não fica “perdido”.

Ficar “perdido” é um sinal de saúde mental. O que quero dizer à nossa leitora é que não despreze o fato de se sentir perdida: você está perdida, como a maioria de nós, em um mundo dos significantes que já não significam nada. É o primeiro passo para buscar dentro de si sua verdade subjetiva, pessoal, o eco do seu Eu profundo.

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