“Gozar a qualquer preço” é o interessante subtítulo de um livro publicado recentemente trazendo as considerações do famoso psicanalista francês Charles Melman sobre o homem contemporâneo: “O homem sem gravidade”, como ele o define no título da obra.
Em contato com as pessoas que buscam o processo analítico para se curar de suas angústias, é fácil perceber que uma das grandes fontes de ansiedade é a dificuldade do sujeito de responder a um imperativo socialmente aceito: gozar a qualquer preço.
“Você já foi para Nova Iorque? Nãoooo! Você tem que ir”. Este fragmento de fala, não é o diálogo entre socialites no salão de beleza, e sim uma conversa entre duas vendedoras de uma loja de roupa na qual entrei para fazer uma compra. Evidentemente para desfrutar da viagem para Nova Iorque a desavisada vendedora deverá fazê-lo (“você tem que ir”) a “qualquer preço”, na melhor das hipóteses detonando sua poupança ou mais provavelmente se endividando.
Uma pesquisa recente do CNC mostra que para a maioria dos endividados, que representa em junho 2012 57,2 % das famílias brasileiras, o valor da dívida chega a comprometer em torno de 30% ou mais do seu orçamento, o que significa que por causa disso muitos são condenados a viver com dificuldades para poder pagar suas contas, sendo que 7,5% não terão condições de pagar suas dívidas e mais de 23% as pagarão com atraso.
O termómetro do gozo não é aplicado ao sujeito, mas ele está instalado nos locais públicos, determinando os níveis de gozo disponível naquele local. É o que se percebe, por exemplo, nas filas do aeroporto, do restaurante, da balada ou do show caríssimo. O termómetro indica índices altos de gozo disponível naquele local. Pelo menos é o que sugere o tamanho da fila… Já não importa a experiência pessoal de cada um, o gozo está lá, é garantido: só mergulhar nele…