Na separação dos pais quais as consequências para as crianças: elas podem apresentar modificações de comportamento?
O divórcio é considerado hoje como o desfecho inevitável para um número crescente de casamentos. Isto faz com que se fortaleça a tendência de minimizar as dificuldades que essa difícil decisão comporta para todos os envolvidos. Na realidade, o processo não é fácil e não pode ser banalizado. Ninguém sai ileso do desgaste de uma relação que aos poucos vai se apresentando como irreparável. Se é difícil para os pais aceitar a ideia que o seu casamento chegou ao fim, sendo que ambos já tiveram uma vida fora do casamento e conhecem uma realidade que o precede, para os filhos que nasceram e cresceram no âmbito de uma união estável, não existe noção de como seria o mundo sem a sua família.
Por outro lado, o processo que leva à separação geralmente se estende por um período de tempo mais ou menos longo, durante o qual os pais podem ter a oportunidade de se preparar psiquicamente para enfrentar o seu impacto emocional. Mesmo assim, nem sempre isto acontece como era esperado e, às vezes, leva anos para que uma separação seja assimilada pelo casal. Já para os filhos o divórcio se apresenta, na maioria dos casos, como uma decisão súbita e, muitas vezes, inesperada. É natural portanto que o seu impacto emocional seja maior e precise ser elaborado possivelmente com a ajuda dos pais, ou, se estes não estiverem em condições de fazê-lo, com o auxílio de um profissional.
Apesar da separação às vezes ser realmente necessária e até desejável do ponto de vista da saúde psíquica da família como um todo, ela envolve um referencial simbólico de difícil elaboração para a criança ou para o filho adolescente. A sensação de perda, pelo menos inicialmente, é inevitável, assim como o processo de “luto” que permite elaborar a perda. Perda do que? Em primeiro lugar perda de um referencial que, como já foi dito, representa tudo o que o filho tem à sua disposição em termos de “ambiente” familiar. Mesmo quando o que se perde com a separação é um ambiente doentio marcado por brigas e agressões constantes, há uma sensação psíquica de perda, que, de alguma forma, se junta à sensação de alívio.
O filho, mesmo quando cresce em um ambiente perturbado, sente que pertence a esse ambiente e perde-lo envolve uma reelaboração de suas referências. Seria difícil resumir as possíveis reações que uma criança ou um adolescente pode vir a ter como consequência da separação dos pais, mesmo porque isso depende da idade, do seu desenvolvimento psíquico e, sobretudo, da forma como os pais estão se separando. Evidentemente um processo consensual de separação é muito diferente de um processo que envolve agressões, brigas e ressentimentos.
De maneira geral, podemos dizer que um grande divisor de águas é dado pela forma como o psiquismo da criança ou do adolescente se posiciona diante da separação. Esta pode ser vivida com sentimentos de culpa, atribuindo a si a responsabilidade pelo fracasso dos pais, ou então ser percebida como uma imposição injusta e egoísta por parte deles, que desperta reações agressivas. No caso de predominar a culpa, a criança/adolescente tende a se deprimir e a se fechar em si, desistindo dos seus investimentos emocionais na vida e no mundo externo. No caso de predominar a agressividade, a tendência é de ter reações explosivas, demonstrando teimosia, falta de respeito e de buscar uma maior autonomia em relação aos pais que “traíram” sua confiança. Isto pode envolver desde uma queda no desempenho escolar até reações transgressivas mais severas.