A tese central do economista é que a desigualdade social vem aumentando nos Estados Unidos, onde hoje 1% dos superricos detêm 25% da renda do país e 40% da riqueza, sendo que 25 anos atrás, eles abocanhavam apenas 12% da renda e 33% da riqueza. Como consequências de campanhas eleitorais cada vez mais milionárias, políticos e parlamentares fazem parte dessa superelite e atuam em função dela.
Alienada das condições sociais gerais, a elite vive numa bolha e não liga para o que acontece com a maioria no âmbito da saúde, da educação, da segurança e da infraestrutura, gerando efeitos perversos para o país. De acordo com Stiglitz, isso provoca, não apenas nos Estados Unidos, mas no mundo inteiro, um “fosso social fabricado” que impede a recuperação da economia, favorecendo uma crescente concentração de riqueza.
De alguma forma parece repetir-se a situação da França do fim do século XVIII. O rei e a nobreza viviam entre festas e banquetes no Castelo de Versailles, totalmente alienados do que acontecia nas ruas malcheirosas de Paris, até que um dia uma massa de pessoas iradas interrompeu suas festas, invadiu o castelo e cortou suas cabeças. Embora sob uma perspectiva diferente, o fenômeno talvez esteja se repetindo com a invasão de refugiados na Europa e em outras partes do mundo e, no Brasil, com as invasões de terras, de moradias e com o multiplicar-se dos moradores de rua.
Simples assim, embora é claro sempre haverá “teorias” tentando justificar o status quo. O que chama a atenção do ponto de vista psíquico é que tudo isso confirma a tendência narcísica, que parece ser uma consequência dessa situação. A alienação contudo desta vez não parece afetar apenas os superricos, como afirma Stiglitz , mas também as camadas da população menos favorecidas, que deixaram de acreditar nas organizações de classe e de olhar para o coletivo e passaram a lutar num corpo a corpo em busca do seu lugar ao sol, no pátio sem luz da prisão que lhe foi imposta.