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Depressao pós-parto

Nove meses de espera. Finalmente o bebê, tão sonhado, nasce. Os medos que afligiam a futura mãe se revelam injustificados. O bebê nasceu perfeito; com mãos, pés, dedos, enfim, dotado pela natureza de todos os acessórios de que um bebê precisa. As fantasias mais angustiantes e obscuras da futura mãe se dissolvem. Finalmente o bebê está em seus braços. Alguns insistem em dizer que tem “cara de joelho”, mas, para os pais, ele é a oitava maravilha do mundo.

Passadas as angústias pré-parto, seria de esperar que a mãe finalmente pudesse descansar e “curtir” o seu pimpolho. No entanto nem sempre é assim. Nos primeiros dias após o parto, cerca de 50 a 80% das mulheres são atingidas por um estado depressivo leve que se anuncia com sintomas variados envolvendo tristeza, crises de choro, ansiedade, cansaço, lapsos de memória, impaciência e irritabilidade. Trata-se de uma crise passageira que, normalmente se resolve em poucos dias.

Mais preocupante é a forma mais aguda de depressão pós-parto que afeta cerca de 10% das mulheres que acabam de dar à luz.  Os sintomas mais comuns são choro incontrolável, perda de memória, aparente desinteresse pelo bebê,  irritação, sentimentos de culpa, medo de machucar o bebê, mudanças de humor injustificadas, falta de concentração e distúrbios de sono ou apetite, aliados a um estado profundo de tristeza e confusão.

Mas, o que torna um dos momentos mais bonitos e importantes na vida de uma mulher uma situação traumática? Infelizmente, bebê nenhum vem ao mundo com um manual de uso. A mãe se sente totalmente desamparada diante daquela coisinha frágil que as enfermeiras do berçário trazem para ela amamentar pela primeira vez.

A sensação é que o bebê é tão frágil que ela não dará conta. Além disso, todo bebê que se respeite, se for saudável, testará logo o poder de seus pulmões, se derramando em um choro desesperador. A bem entender, desesperador para a mãe, pois o choro, para o bebê, é apenas uma forma de se expressar, de manifestar a intensidade de suas necessidades. Diria quase uma forma de dizer: estou vivo!

Mas não há nada mais desesperador para a maioria das mães que o choro do seu bebê. Para uma mãe ansiosa, então, o choro será algo aterrador. Uma verdadeira manifestação de sua incompetência como mãe.

O estado depressivo pós-parto geralmente se alimenta de sentimentos complexos, ligados a sensações de culpa. Mas culpa de que, se ela fez tudo direitinho? A questão é justamente essa. A culpa é inconsciente, não pode ser identificada. Muitas vezes a culpa é alimentada por sentimentos aversivos que a mãe nutriu em relação à gravidez ou ao próprio bebê. Como costumo dizer aos meus pacientes, o nosso inconsciente não tem ética, nem religião. Ele é instintivo e seus sentimentos são incontroláveis. O ódio e a culpa convivem nele de forma paradoxal.

Infinitas situações externas ou internas podem gerar esses sentimentos inconscientes na mãe. A molestação sexual na infância, crises conjugais, dores sofridas durante a gravidez, hesitações quanto ao futuro profissional, são apenas alguns exemplos de situações que podem disparar sentimentos aversivos dirigidos ao bebê e conseqüentemente culpa.

O estado depressivo é terrivelmente angustiante porque não tem explicação aparente, já que as situações que o provocam não são percebidas conscientemente. Quanto mais marido e familiares se esforçam em “consolar” a mãe deprimida, mostrando que ela não tem razão para estar assim, mais ela irá se deprimir. Pois se sentirá ainda mais incompreendida e solitária.

Embora não seja fácil, a melhor ajuda é mostrar compreensão pelo seu sofrimento. Embora não seja identificado, o sofrimento tem sua razão de ser. É importante pela mãe perceber que o seu sofrimento e a sua depressão são autorizados pelas pessoas que ela ama.

Portanto, nada de repreensões. Frisar os aspectos positivos do cuidado que ela eventualmente consegue dar ao bebê, apesar do seu estado depressivo, ou a simples constatação de que o bebê está sendo cuidado e está bem, poderão ajudar bastante.

De qualquer forma, vale a pena lembrar, na presença desses sintomas é importante consultar um profissional para evitar conseqüências mais graves para a mãe e para o bebê.

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