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Criança agressiva

Criança agressiva
Ao levar um “tapinha” da criança, qual a melhor forma de agir? Anabelle de Almeida Silva, São Paulo (SP)

Desde o nascimento a criança manifesta a agressividade de diferentes formas. Morder (o seio da mãe costuma ser a primeira vítima), beliscar, puxar o cabelo e até as próprias evacuações podem ser formas da criança expressar sua raiva. Nos primeiros meses de vida é importante que a mãe (ou sua substituta) possa acolher essas manifestações de agressividade sem se abalar.


Como já foi explicado em outros artigos, a criança nasce em um estado de não integração psíquica e de fragmentação, pois ela está totalmente à mercê do seu mundo interno ainda não estruturado. A agressividade faz parte desse estado psíquico, pois a capacidade de suportar o mundo externo e suas frustrações é muito reduzida.

Diante de um mal-estar que procede tanto de um estado interno de fragmentação mental, como de frustrações vindas do mundo externo a criança sente angústia e ansiedade. A agressividade é uma forma de “descarregar” a angústia, expelindo para fora algo que internamente incomoda e não é suportado.

Embora eu esteja usando os termos “dentro/mundo interno” e “fora/mundo externo”, é importante frisar que, nos primeiros meses de vida, essa distinção ainda não existe na mente da criança. A consequência é que tudo o que acontece, dentro e fora, a criança atribui a si, pois esse é justamente o tempo em que ela está formando o seu self (si-mesmo). As reações do mundo externo são portanto percebidas como algo que faz parte de um processo interno. Se o mundo externo recusa sua agressividade e a reprime, a repercussão interna é como se a criança percebesse que há partes delas que são ruins e que não podem ser integradas pela mente. Essas partes passam a integrar uma espécie de lixo psíquico com o qual a criança não consegue lidar, a não ser expulsando-o para fora usando os processos de projeção. O problema é que alguns pais já querem “educar” a criança nesta fase, em que os processos educativos ainda não podem ser assimilados.

Este funcionamento extremamente autocentrado, que caracteriza os primeiros meses de vida, muda aos poucos. A mãe é quem vai introduzindo “pedacinhos de realidade”, fazendo com que a criança os assimile. Isto acontece quase da mesma forma como a mãe vai introduzindo aos poucos a alimentação sólida, substituindo o leite materno.

Estamos falando em “pedacinhos de realidade” (uma expressão cara a D. Winnicott) e não de porções indigestas de realidade, como alguns pais entendem quando querem “educar” a criança desde os primeiros meses para evitar que se torne um adolescente revoltado.

Em torno dos três/quatro anos esse processo passa a adquirir uma importância cada vez maior, na medida em que a criança percebe que faz parte de um dinamismo de relações que não dizem respeito apenas a ela mesma. As figuras do pai, da mãe e, eventualmente dos irmãos começam a ter um peso cada vez maior, na medida em que interagem com a criança e entre si.

É neste período que ela se prepara para o processo de socialização, que se tornará explícito no ambiente escolar. Aos poucos a criança passa assim do uso onipotente do mundo externo para a percepção que o mundo externo é separado dela e tem vontade própria que frustra sua vontade e seus desejos (limites).

A partir dessa fase, comportamentos inadequados devem ser adequadamente reprimidos, mediante a imposição de limites. A mensagem deve ser clara, mostrando á criança que ela não é onipotente e que o mundo externo não vai suportar sua presença de forma total e irrestrita. Existem “regras“ e devem ser respeitadas. Um castigo claramente definido e executável pode ser um eficiente método para educar, deixando claro que os pais ficaram chateados e que não gostam daquele comportamento.

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