Meu filho não gosta de Igreja. Tem 15 anos e não consigo leva-lo na missa. Devo deixar que a escolha seja livre, ou devo insistir? Ana Cláudia, Porto Ferreira (SP)
A escolha de uma religião
A escolha religiosa é um ato pessoal que em hipótese nenhuma pode ser imposto, pois supõe uma adesão que envolve os estratos mais profundos da personalidade, sendo uma das expressões do próprio Self.
O que caracteriza a insensatez de todo tipo de fundamentalismo é a pretensão de impor uma determinada religião, apresentada como sendo a única válida, dando a quem a ela adere o direito de se sentir “diferenciado” em relação aos seus pares que vivem na escuridão. Isto quando não inculca o ódio pelos que pertencem a outros credos, como comprovam as barbáries cometidas na Síria recentemente. Se isso é insensato para qualquer credo religioso, é particularmente insensato para quem se diz cristão, pois o cristianismo prega o amor pelos “inimigos”, inclusive para os que não são cristãos, mesmo que a história do cristianismo, infelizmente, nem sempre comprove essa atitude.
No período da infância, a criança participa de determinadas formas que lhe são “apresentadas” pela família na qual vive e que, se tudo correr bem, são apropriadas pelo self pessoal. Essas formas podem até permanecer em segundo plano por algum período da vida, mas acabam se impondo mais tarde, desde que a experiência tenha sido realmente marcante.
Vale a pena observar que a apropriação dessas “formas”, que incluem aspectos éticos e estéticos da vida, pode acontecer pelo introjeção de experiências positivas, vividas no âmbito familiar, ou por oposição a experiências ruins, também vividas no âmbito familiar, às quais o inconsciente reage substituindo uma idealização do oposto.
Tudo isso permite perceber que o desenvolvimento do senso religioso é algo muito delicado e sutil, que depende da possibilidade da criança “se identificar” com “experiências” vividas no âmbito familiar. Não basta um discurso convincente, nem a vivência de rituais ou a leitura de textos edificantes, trata-se de algo mais profundo que envolve uma experiência, cuja apreensão pelo psiquismo é profundamente diferente daquela de uma simples vivência.