Quando o amor não é correspondido, vale lutar pela conquista da pessoa amada ou não adianta forçar?
João ama Maria, que ama José, que ama Joana, que ama João. Há no repertório da MPB uma canção que diz mais ou menos isso, a testemunhar o quanto seja comum a situação do amor não correspondido.
Amar alguém sem ser correspondido é sem dúvida frustrante, apesar da psicanálise mostrar que, em alguns casos, é exatamente isso que o nosso inconsciente busca. Estranhezas da mente que procura repetir traumas primitivos que nunca conseguiu elaborar, reencenando a rejeição, na escolha de um objeto amoroso inadequado. Geralmente esta situação se repete de forma compulsiva, levando a pessoa a pensar que é realmente desafortunada no amor. Se este for o caso, melhor buscar uma terapia.
Não podemos contudo generalizar. Às vezes insistir adianta, pois o interesse demonstrado pode despertar uma resposta amorosa inesperada no outro. Isto acontece quando o interesse é autenticamente voltado para o outro, que, neste caso, é percebido como ele se apresenta, ou seja com seus aspectos bons e ruins. Isto não quer dizer que o outro possa ser “decifrado”, mas apenas que ele pode ser aceito e respeitado no seu mistério.
Quando porém o interesse é narcísico, ou seja, voltado unicamente para si e para as próprias projeções idealizadas, a coisa muda. Insistir pode se tornar a melhor forma de afastar o outro, que passará a considerar o “amante apaixonado” um chato insuportável.
Sobre sentimentos não mandamos: nem sobre os nossos, nem sobre os alheios, não adianta forçar. A única coisa que podemos fazer é aceita-los e ver o que podemos fazer com eles. No caso de alguém não corresponder ao nosso amor, é bom levar em conta que isso pode ter pouco ou nada a ver com o fato de merecermos o seu amor. Onde dois se encontram sempre há quatro dialogando, dois seres conscientes e dois inconscientes. Às vezes trata-se de uma autêntica Babel, onde ninguém entende ninguém, mas, às vezes, o encontro com o outro acontece, abrindo a possibilidade da maravilhosa experiência da realidade compartilhada.