A ligação afetiva caracterizada por aquilo que em Psicanálise se define como amor transferencial ou transferência erótica não é um fenômeno isolado aos ambientes religiosos e não ocorre unicamente envolvendo mulheres. Toda vez que se estabelece uma relação que supõe algum tipo de “cuidado”, ou situações em que a figura do padre, do terapeuta, do médico, do professor ou do chefe aparece rodeada por uma aura de poder e de autoridade, é possível que se estabeleça algum tipo de ligação amorosa.
O seriado “Terapia”, exibido pela rede GNT, mostra um caso parecido, em que a ligação ocorre entre um terapeuta e sua paciente. A história da Psicanálise é pontilhada de situações desse tipo que, às vezes, resultaram em tórridas relações amorosas. ´´E o que relatam os filmes Um método perigoso e Jornada da alma, ambos baseados em fatos reais protagonizados por Carl G. Jung e sua paciente Sabina Spielrein, que, por sinal, apesar de tudo, foi curada de sua grave neurose e se tornou uma renomada médica e psicanalista.
A Psicanálise explica esse tipo de ligação como uma reprodução de afetos ligados ao desenvolvimento infantil em que a relação amorosa e erótica entre a criança e seus pais foi traumática ou não foi adequadamente elaborada. De certa forma a figura do cuidador ou de alguém investido de algum tipo de autoridade remetem ao cuidado materno e à autoridade paterna, que em muitos casos, por causa do distanciamento afetivo ou até da ausência de uma dessas figuras fundamentais, não foram vividos de forma adequada.
A mente tende a voltar para situações que não foram suficientemente elaboradas e que se constituíram como pontos não resolvidos no espectro da vida emocional, representando impasses no processo do desenvolvimento afetivo. Trata-se não apenas de uma tendência e sim de uma necessidade, pois o psiquismo precisa reencenar e reviver essas situações para tentar lhes dar um significado e transformá-las em experiências que possam ser pensadas.