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Casal homossexual: por que incomoda?

Casal homossexual: por que incomoda?
Porque os homossexuais, embora do mesmo sexo, são chamados de casais? Eu penso que casal só é´um macho e uma fêmea. Desculpe minha dúvida, mas sempre que eu ouço fico inquieta com isso./em>- Ana- Uruguaiana-RS

O que me chamou a atenção na pergunta acima formulada é a inquietação diante de uma questão que, aparentemente, parece ser apenas um trocadilho de linguagem.

No entanto, como sempre escrevo, não devemos subestimar os sentimentos. Vamos portanto tentar desvendar o que se esconde atrás desse incômodo de nossa leitora.

Quando pensamos em um casal o mais comum é pensar em um homem e uma mulher. É esta a definição que o dicionário dá para o verbete casal: “Par composto de macho e fêmea, ou homem e mulher”. Do ponto de vista lingüístico portanto nossa leitora está certa.

Mas por que incomoda que uma dupla de homossexuais seja chamada de casal? Existe algum tipo de resistência psíquica que impede de pensar um casal de dois homens ou duas mulheres se relacionando sexualmente? Se de fato existe essa resistência, de onde se origina?

Tempo atrás uma mãe me dizia que não podia deixar de pensar no homossexualismo do filho como algo “repugnante” (não lembro exatamente a palavra que usou, tenho a impressão que era ainda mais forte, mas o sentido era este). Ela tinha nojo de imaginar seu filho em atitudes íntimas com algum homem.

Quem não é homossexual, normalmente, sente uma repugnância interna em pensar nas relações de pessoas do mesmo sexo. Porém, é notório que muitos homens se excitam ao observar duas mulheres fazendo sexo entre si. Basta abrir qualquer revista masculina para perceber o quanto essa fantasia é explorada. A reação porém não é a mesma quando se trata de dois homens em atitudes íntimas. Neste caso geralmente a reação é de “nojo”.

O paradoxo é que o(a) homossexual pode vir a ter o mesmo “nojo” em pensar na intimidade sexual e afetiva entre pessoas que não são do mesmo sexo. O “nojo” vem da orientação sexual de cada um, que geralmente é exclusiva.

No caso das orientações bissexuais, no entanto, é possível que ambas as possibilidades sejam contempladas como “normais”. Embora não tenha à mão estatísticas recentes, não é raro na clínica perceber que uma certa experimentação homossexual chega a ser bastante comum, sobretudo entre mulheres, mesmo sem que isso leve necessariamente a uma orientação homossexual definitiva.

Entre homens, a experiência também pode ocorrer, mas, geralmente, costuma ser mais perturbadora, podendo resultar no futuro em uma orientação homossexual definitiva. De qualquer forma, para o(a) bissexual tanto faz se relacionar sexualmente com um homem ou com uma mulher.

Tudo isso nos faz pensar que o uso da palavra “natural” é ambíguo, pois para alguns pode ser natural algo que para outros não é. Talvez isso possa levar também à necessidade de aprofundar os posicionamentos éticos que se fundamentam sobre o que é contra ou a favor da “natureza”. Quase a confirmar isso, encontramos na própria natureza (no reino animal) exemplos bastante comuns de homossexualismo. Mas essa é uma discussão que transcende a psicanálise e entra no domínio da filosofia e da moral.

Do ponto de vista psicológico, pode haver uma resistência em pensar uma dupla homossexual como um casal. No entanto, quanto mais definida for a orientação sexual da pessoa, menos ela se sentirá incomodada pela atitude homossexual do outro, mesmo sentindo uma certa repugnância diante de atitudes homossexuais explícitas, vividas por pessoas do seu mesmo sexo.

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