Uma boa mãe é aquela que se torna desnecessária com o tempo?
A experiência da maternidade traz um desafio muito especial na vida da mulher. Se para os animais ela está totalmente inscrita no instinto, para o ser humano, embora seja parcialmente inscrita no instinto, é uma experiência que deve ser apreendida.
O ato de gerar e cuidar de um filho também se diferencia pela peculiaridade do bebê humano, que nasce com um altíssimo grau de desamparo diante do ambiente, pois uma parte importante dele, a estruturação do psiquismo que lhe permitirá lidar com o mundo externo, não está formada e depende da interação com o meio que o recebe, principalmente com os pais.
A mãe em especial, antes de ser o primeiro objeto do amor do bebê é percebida como um “ambiente” que o bebê ainda não diferencia de si mesmo. Somente depois dos primeiros meses de vida, o bebê começa a perceber a mãe “objeto”, diferenciada dele, com a qual começa a se relacionar dando vasão ao seu amor e à sua agressividade.
A fase em que a mãe é ainda uma criação subjetiva, uma extensão dele mesmo, é extremamente importante para o bebê, pois é o momento em que ele forma o sentimento de existir, de ser ele mesmo (self), de habitar um corpo, se apropriando de sua capacidade de “criar” o mundo que já está ali, sendo oferecido a ele pela mãe.
Nesta fase, quanto menos o bebê “percebe” a mãe como algo intrusivo, melhor ele estrutura o seu Eu (self) e experimenta sua “potência”. Fazendo uso da onipotência do seu mundo interno ele experimenta sua capacidade de “criar” tudo o que a mãe lhe oferece.
Esta capacidade da mãe “estar ali”, sem “incomodar” o bebê, é o início do processo que, se for bem sucedido, permite que o bebê possa “esquecer” a mãe, desenvolvendo a capacidade de estar só (na presença dela) e passar a se relacionar com o mundo externo com confiança, justamente porque a mãe não se esqueceu dele.
Tudo isso parece um jogo de palavras, mas na realidade é um sofisticado processo psíquico que exige a presença, doação e desapego maternos.