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Pais e Filhos

Adolescente retraído

Tenho um sobrinho de 14 anos adolescente, que foi uma criança alegre, brincalhona e arteira, porém tenho notado que, nos últimos 2 anos, ele vem ficando cada vez mais calado, triste, não têm muitos amigos, e não se interessa em sair de casa. Normalmente fica só no computador, se comunica praticamente só quando perguntamos algo. Quais fatores podem influenciar nessa mudança de comportamento? (Anônimo)

Em primeiro lugar é necessário esclarecer que as crises são absolutamente normais nessa idade. Como dizia a famosa psicanalista francesa Françoise Dolto, com o aparecer dos primeiros sinais anunciando o fim da infância e o início da transição para a idade adulta, o adolescente entra em um estado de luto pela “perda” da infância e de suas “mordomias”.

Nesta fase, começa a se sentir fortemente pressionado pelo ambiente (colegas, escola e familiares)  a se tornar mais autônomo e independente, sem saber ainda como fazer isso. Além das transformações físicas (mudança de voz, intensificação da atividade hormonal e aparecimento das características sexuais adultas), o adolescente enfrenta transformações psíquicas que o obrigam a lidar com suas angústias e seus medos. Dois cenários são possíveis nesse contexto.

Por um lado, alguns pais cobram neste período maior responsabilidade e independência, mas, por outro lado, continuam tratando o adolescente como uma criança irresponsável, exercendo um forte controle sobre sua vida, sem garantir um espaço onde ele possa exercer  sua autonomia. Tudo isso evidentemente intensifica o estado confusional que o adolescente já vive por si só.

Por outro lado, há pais que exageram a dose na concessão da independência e da autonomia, fazendo com que o adolescente se sinta literalmente jogado, perdido e sem rumo, à mercê de um mundo externo que por um lado o seduz, mas que, por outro lado, o assusta.

Além disso, do ponto de vista emocional, começam nesta fase os primeiros envolvimentos afetivos. Isto gera ansiedade e traz à tona os problemas emocionais de fundo que o adolescente traz desde sua infância, dando lugar a sentimentos intensos de rejeição, de ciúme, de posse, de idealização, etc.

Embora esteja frequentemente fechado no seu quarto, através da Internet, o adolescente hoje tem acesso a um mundo de possibilidades: novos conhecimentos, músicas, clipes, filmes, leituras de todo tipo e até relacionamentos virtuais. O mundo do adolescente pode não estar tão esvaziado como os pais imaginam vendo-o fechado no seu quarto a maior parte do tempo.

A dificuldade de comunicação caracteriza esta fase do desenvolvimento, pois, de propósito, o adolescente não quer compartilhar com os adultos seus pensamentos e suas preocupações. O adulto deve ser “afastado” por uma necessidade do Eu que precisa se constituir, na maioria das vezes, em oposição ao Eu dos pais.

Feita essa premissa, não podemos excluir, no caso apontado pelo nosso leitor, a possibilidade do adolescente em questão estar vivendo uma patologia depressiva. Será necessário observar o seu comportamento em todos os contextos (casa, escola, com os amigos) para poder ter uma ideia mais clara sobre a eventual patologia do quadro. Convidar os amigos em casa pode ser um bom recurso para observar como ele interage longe dos pais, assim como convidá-lo a praticar alguma atividade física que favoreça a socialização.

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