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Quando falar de sexo com a criança?

Existe uma idade mais adequada para conversar com os filhos sobre sexo e sexualidade? Ou esperamos que eles nos perguntem alguma coisa a respeito? M.G.S. de SP

Quando Freud publicou os seus primeiros estudos sobre a sexualidade infantil, sustentando que, praticamente desde o nascimento, a mente da criança é marcada por experiências e fantasias de caráter sexual, foi olhado com suspeita e marginalizado pela comunidade científica da época.

No entanto, suas afirmações, por estranhas que possam parecer à primeira vista, são fundamentadas na experiência clínica. O ser humano nasce em um corpo. A psique (dimensão da alma, do espírito, que preside o funcionamento mental e emocional) e o soma (palavra grega para definir o corpo na sua dimensão material e sensorial) se integram.

O desenvolvimento psíquico passa pelas experiências sensórias iniciais que envolvem a amamentação e as demais sensações prazerosas de calor, aconchego, sucção, mordida, toque, sustentação (no colo), etc. Os contatos físicos com a mãe despertam sensações eu já têm um caráter sexual. Através delas, o bebê vai descobrindo o seu corpo, se apropriando dele, pois inicialmente ele não sabe que tem um corpo, que o envolve e o delimita.

A própria experiência da evacuação (xixi e cocô) é uma experiência psicossomática que também envolve sensações corporais prazerosas que estão ligadas aos processos internos que envolvem a agressividade. O cocô e o xixi podem ser tanto um “presente” que a criança proporciona à mãe, como uma forma de expressar sua agressividade. Ambas as sensações envolvem algum tipo de prazer e a energia sexual (libido).

A rigor, portanto, a iniciação sexual da criança já começa no berço, na medida em que todas essas experiências são facilitadas e podem ocorrer de forma adequada. No entanto, é em torno dos quatro anos (a idade varia de criança para criança) que a sexualidade adquire uma conotação mais clara, com o processo durante o qual se definem as identificações sexuais da criança. Este processo define aquilo que Freud chamou de fase edípica.

O processo varia nos meninos e nas meninas, no entanto, as fantasias neste período acentuam, tanto nos meninos como nas meninas, o interesse pelo corpo do genitor do sexo oposto e as fantasias sexuais relacionadas (não é raro o(a) menino(a) dizer que quando grande irá casar com a mãe ou com o pai). No entanto é importante notar que nesse período a criança não desenvolveu a genitalidade, portanto o psiquismo da criança não está preparado para experiências que envolvam relações de caráter genital (abuso). É possível porém que nessa fase ela desenvolva um maior interesse pelos seus órgãos sexuais e algum tipo de experiência masturbatória.

Se tudo correr bem,  os meninos e as meninas se identificam com o genitor do mesmo sexo e passam a interagir com o genitor de sexo oposto criando um vínculo de caráter “sexual” e afetivo adequado. Cabe aos pais acolherem com equilíbrio este momento importante, sem exageros, evitando de estimular demais o erotismo da criança ou, então, se retraindo por medo de suas investidas eróticas (abraços, beijos, toques, desejos de ver o corpo nu dos pais, etc.).

Na puberdade, os(as) jovens começam a desenvolver interesses de caráter sexual que envolvem a genitalidade e, portanto, já estão “predispostos” para o exercício da sexualidade em sua plenitude. O fato de estarem predispostos, no entanto, não quer dizer que estejam psicologicamente “preparados” para isso.

É claro que é nesta fase que os pais devem intervir de forma mais explícita para orientar os filhos nas questões que envolvem a vida afetiva e a sexualidade. Isto será mais fácil na medida em que os pais tiverem  uma relação saudável com a própria sexualidade e com os filhos. De qualquer forma, os pais deverão tomar alguns cuidados para que sua intervenção seja bem sucedida.

Em primeiro lugar, não deverão adia-la achando que os filhos ainda não estão preparados. Hoje em dia os jovens têm acesso a uma quantidade enorme de informações através dos meios de comunicação, da Internet e de outros jovens. Portanto não hesitem em falar com seu filho, antes que ele se informe de forma inadequada.

Um segundo cuidado é não serem demasiadamente “científicos”. Experiências pessoais são sempre mais bem-vindas do que teorias.

Em terceiro lugar, é importante que os pais abordem com clareza e abertura “todas” as questões pelas quais o(a) filho(a) mostrarem interesse, evitando de criar a sensação que há coisas sobre as quais não se pode falar.

Por último, para que a conversa flua de forma adequada, em um clima de confiança e abertura, é bom que os pais procurem evitar o tom moralista ou passar a impressão que estão querendo dar conselhos. Tomar como ponto de partida as dúvidas dos filhos é sempre um bom caminho.{jcomments on}

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